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Zainne Lima da Silva (1994) 
É moradora de Taboão da Serra, zona metropolitana de São Paulo. Bacharela e licencianda em Letras pela FFLCH-USP. É poeta, escritora, arte-educadora, revisora e professora do ensino básico. Autora de Pequenas ficções de memória (Ed. Patuá, 2018), de Canções para desacordar os homens (e-book independente, 2020) e de Pedra sobre pedra (Ed. Popular Venas Abiertas, 2020). Publicou em diversas antologias impressas e virtuais, como Cadernos Negros (vols. 41 e 42), em portais e em revistas de literatura. Foi finalista do Programa Nascente USP em 2016, 2017 e 2018, recebendo Menção Honrosa pela crônica A história de Maya, em 2017. 

OURIVES

 

acordar com uma pedra em cima do coração
escrever sobre a pedra
(limpar a pedra
analisar a pedra
moer a pedra
polir a pedra
entalhar a pedra
adornar a pedra)
ser apenas vitrine para que a pedra brilhe.

 

 

A EDUCAÇÃO PELA PEDRA
OU
A EDUCAÇÃO PELA NOITE

 

de madrugada eu trabalho
eu e os pedreiros construindo
em frente à minha casa

erguemos obras de tijolo e cimento
a cada rabisco da caneta
ajunta-se um reboco de parede

eu também sou arquiteta popular
com algumas pedras noturnas ergo
a minha poesia.

 

 

KIANGA

Para Ellen

 

és tu quem tem a água morna de embalar os filhos.

os filhos de todo o mundo ganham colo através de teu afeto.

 

 

inteiro, o teu ser nina uns sonhos de quem apenas tem pesadelos. és tu o raio de sol amarelo ouro que banha a tarde Ancestral.

 

és a encarnada Mãe de Rio, és Sacya Ama,

és minha avó, és minha mãe, és minha filha.

 

és a que segue o curso baixinho, quase para ninguém ouvir; és lagoa. também és cachoeira, és barragem de grito e canto veementes.

 

és o florescer da menor e mais límpida nascente. és a vontade de qualquer ser-tão: ser água.

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