Terezinha Malaquias
Estudou escultura na Edith Maryon Kunstschule Freiburg (Alemanha), aonde mora há 12 anos. E foi aos 11 anos, só que de idade, quando se apaixonou pela poesia, e essa paixão virou amor. Artista múltipla,é escritora, poeta, atriz, modelo vivo e performer. Autora dos livros Modelo Vivo I, Menina Coco, Teodoro, entre outros. Participou de antologias no Brasil, nos Estados Unidos, na Alemanha e em Portugal. Fora isso, tem um canal no YouTube com o seu nome para publicação de videopoesias e videoperformances.
MEUS VIZINHOS
Quase sempre enquanto preparo o jantar, olho da janela da cozinha um casal de vizinhos do sétimo andar (eu moro no quarto). É um casal muito simpático que, às vezes, sai para caminhar de mãos dadas. E toda vez que os vejo, lembro dos meus pais que só caminhavam de mãos dadas (companheirismo e carinho que durou por quase 53 anos).
Teve um dia desses, de manhã bem cedinho, os encontrei no supermercado que fica cerca de um quilômetro do prédio que moramos. Detalhe: ela, alemã com seus 85 anos, e ele, polonês com 92 anos, vão e voltam a pé. Empurravam um carrinho de compras e, quando me viram na entrada, cumprimentaram-me sorridentes e festivos. Voltamos a nos ver no setor onde ficam as verduras, os legumes e as frutas. Aqueles vizinhos eram pura vivacidade. Voltei para casa feliz.
Na Alemanha não tem porteiro nos prédios, o que torna o convívio mais afável. E num fim de semana, à tarde, soou a campainha. Era a minha vizinha do apartamento ao lado, com uma sacolinha de frutas que trouxera do pomar da amiga dela que mora em outra localidade de Freiburg. Visivelmente emocionada, depois de ficar dois meses internada no hospital, tinha nos ido agradecer pelo cartão de boas-vindas que eu fiz e pintei e o Gerhard, (meu marido) escreveu. “Meu coração é belo, mas a minha letra é bem feia. É o que dizem”.
Durante a conversa, contei que a minha mãe dizia que vizinho deve ser um pelo outro. Ela sorriu e confidenciou que a mãe dela falava a mesma coisa.
Essa vizinha é uma senhora muito especial. Ela é russa e mora há anos aqui, mas costuma viajar para visitar os filhos e os netos que moram em outras cidades. E quando volta das viagens, para sinalizar que chegou, deixa os seus sapatos no tapete da entrada, do lado de fora.
Terminada a visita nos abraçamos. Fechei a porta sem caber dentro de mim, de tanta alegria. Fui direto para a cozinha, já estava na hora de fazer o jantar. Em poucos minutos, o cheiro da polenta e dos cogumelos com pimentões no leite de coco exalavam os seus perfumes.
Naquela noite, jantamos à luz de velas para saudar o presente que é a vida, e de como é bom aprender e compartilhar histórias, abraços, sorrisos e votos de felicidades que vêm do coração.