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Anna Maria Ribeiro Costa

É doutora em História pela UFPE e Professora do Univag. Chegou às terras do povo indígena Nambiquara na Primavera de 1982. Dos índios recebeu o nome Alusu, por conta de seus hábitos alimentares. Nessas terras, conheceu José Eduardo, com quem tem dois filhos: Theo e Loyuá. Vem se dedicando aos estudos sobre os povos indígenas de Mato Grosso, com especial atenção ao Nambiquara.

TEMPO DE CHUVA

A libélula, matitisu, moradora da Figueira sagrada suspensa no céu, possui o poder da chuva. Há muitos e muitos anos, o espírito Dawasunusu encarregou o inseto para distribuir chuvas para as gentes lá de baixo. Ao seu talante, com seus minúsculos pés a bater um no outro, fazia chover com as águas da lagoa celestial. 
As gentes de baixo não gostavam nem um pouco do trabalho de matitisu porque ora chovia demais, ora chovia de menos. Dificilmente acertava a quantidade de chuva necessária ao trabalho da caça, do plantio, da coleta. Somente um homem velho conseguiu sobreviver à desordem do inseto voador. 
O homem velho só tinha uma saída: descobrir onde estavam as raízes da Figueira sagrada para subir e encontrar com a libélula para lhe ensinar corretamente o tempo e a quantidade de chuva. Mas, onde estavam as raízes suspensas da Figueira? Desesperançoso, sentou-se. 
As almas, que lá de cima assistiram todo o esforço do homem velho, jogaram um cipó, alertando-o para segurá-lo firmemente e fechar os olhos durante o percurso. As bondosas almas puxaram o cipó para que o homem atingisse a copa da Figueira sagrada para conversar com matitisu. Assim que chegou, foi prevenido a não dirigir a palavra ao colérico gavião.
Ao encontrar com matitisu, o homem velho ensinou que quando uma florzinha amarela desabrochasse no cerrado não poderia fazer chover. Ela avisava que havia chegado o tempo de cuidar da terra para os trabalhos da roça; participava também as abelhas o momento de produzir mel. Deveria fazer chover somente com o estrondo das trovoadas e a cantoria das cigarras. E assim se fez. Matitisu aprendeu a lição dada pelo homem velho que veio das terras debaixo da Figueira sagrada.

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