Stéfanie Sande
É escritora e doutoranda em escrita criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
ROMÃ
A fruta do submundo
é sempre vermelha
suculenta
e a nossa decadência
escorre rosa
pelo braço
o que eu acho
irônico
Perséfone
é que você
dona da primavera
quando ao inferno
desce
no inferno
impera
ponta da caneta
no papel e o
pacto feito
em bilhete só
de ida
e eu
mortal de uma
só vida
escrevo a página e
morro
e vivo na página
escrita
o quão doce é
a romã
quando
irreversivelmente
mordida
CONFISSÃO
estudar as palavras e o não dito
texto e contexto que não bastam
estudar as palavras e sua forma
sintaxe semântica coesão estética
procurar arte na palavra escrita
achar sensação pela forma como é dita
procurar na palavra os pontos fortes
e considerar que talvez sejam fracos
há mais coisas na palavra dita
na palavra escrita na não palavra
há no contexto das palavras demasia
papel áspero em branco e o atrito
confessar a vontade de engolir
as palavras em sua concretude
confessar o crime de não estudar
as palavras pelas palavras