

Sol, ou Bruna Ferreira
Nasceu em Cuiabá e mora em Várzea Grande (MT). Tem 21 anos. É formada em Teatro com ênfase em atuação pela UNEMAT e graduanda de Letras - Português e Literatura pela UFMT. Fez intercâmbio interestadual e residiu em São Paulo para estudar na SP Escola de Teatro. Poeta e artista plástica, faz parte da Coletiva Slam do Capim Xeroso.
AMOR-LATIFÚNDIO
Minha amiga contando as presepada do cara
Dormia enquanto ela limpava a casa
Saia enquanto ela trabalhava pa pagar as parada
Se divertia, metia os pente, vivia contente
Enquanto ela, calada, silenciada, não podia ir sozinha nem pás batalha
Abri o Wikipédia e joguei lá, Latifúndio: Propriedade de grande extensão, pertencente a uma única pessoa que se caracteriza pela exploração de recursos
Lembrei da música da Rita, amor é latifúndio, sexo é invasão
Virei pa minha amiga e falei: Porra, isso aí é amor-latifúndio
Ceis começaram a se relacionar e cê foi logo desmatada
Ele patrolou a terra do coração, pra ficar tudo nivelado, organizado, de acordo com o gosto do patrão
Depois vieram com as sementes e regaram por dois anos
cê plantou carinho, bejinho, aqueles negócio gostosinho
Enquanto ele vinha com as semente da espécie sacanage
Se liga Renato, ingrato, quem planta sacanage colhe solidão e o caralho A4 sim.
O Patriarcado-latifúndio ensina todo dia que amor é posse e tem que encher barriga
Que relação é investimento social, é afeto transformado em capital
O patriarcado ensina que gozo é pagamento, é unilateral
E q se mina quisé, tem q fazer assim uma troca, vai que rola, rôla
O patriarcado ensina que não existe terra demarcada, que mereça respeito
Peito, coração, mente dos outros é propriedade da economia da nação
O patriarcado ensina que ser latifundiário de uma relação é administrar os gado com eficiência e pagar pouco justificando inteligência
Mas o amor-latifúndio, não contava com nossa astúcia
Não contava com o movimento das sem terra, sem afeto, sem reciprocidade, que mesmo destruída tão cada vez mais unida
De mão dada, pa mostrar pas gurizada
Que pa deitar vai ter que pagar pedágio
Pa rola, vai ter que pedir bença
No Slam do Capim Xeroso vai ter que cola, mas pra me ouvir falar
Pq se amor é latifúndio, as menine tão em greve.
AFETOL
Cloridrato de Afetolina
Essa poesia contém cápsulas revestidas de Ácido Lírico
Uso oral, adulto,
ou a partir do primeiro vício
Cada cápsula contém:
25 mg de Afetolina, 30 mg de Amorpropilina,
Artelina, Épicorante,
30 mg de Omundo Émaiorqueisso Caralhol, H2ódio,
Cloreto de Putássio e Ácido Lírico
Afetol é indicado para o tratamento de:
Falta de ar, dor de cabeça,
baixa autoestima, frio na barriga,
ansiedade, seráqueéelealiousóparece?,
temores, tremores,
palpitação, fobia social,
insônia, Sônia
E de tudo que existe,
ou nem chegou a existir
De tudo que encheu e tirou tudo de ti
Eu aprendi o significado de dicotomia
Quando amei
e não fui amada
Quando me cura
e me mata
Afeto vicia
É a droga que cura a droga,
da abstinência
Afeto afeta afetos,
fitas, fotos, fatos, fica, esperto
Porque a vida
é uma drogaria
Esse medicamento é contraindicado em caso de suspeita de dengo
Não leia Bula
Leia Bruna.
AVE POESIA MARGINAL
Ave Poesia Marginal
Cheia de marra
A luta é conosco
Maldita sois vós entre as artista
Bendito é o fruto da vossa performance na pista
Putas Marias
Mulheres de luta
Rogai por nós que grita
Agora e na hora da morte de cada dia
Também
Ave Dandara
Cheia de garra
Mulher de luta
Bendita suas faca
E suas disputas
Angela Davis
Nunca se calou
Nós quer saber
Marielle Franco
Quem foi que matô
Salve, Roberta
Estrela D´alva
Maria Fulô
Seus filho e suas causa
Ave Terrena
E a Luh maza
Naruna
Tieta
Pacha e Ana
Djamila Ribeiro
Nivea Sabino
Conceição Evaristo
Lupita Nyong’o
E Amorim
Elisa Lucinda
Linn da Quebrada
Claudia
Carolina Maria de Jesus
Maria Firmina
Maria Bonita
E todas, todas as possibilidades de ser Maria.
Ave Poesia Marginal
Cheia de marra
A luta é conosco
Maldita sois vós entre as artista
Bendito é o fruto da vossa performance na pista
Putas Marias
Mulheres de luta
Rogai por nós que grita
Agora e na hora da morte de cada dia
Amém.