Santiago Villela Marques
É o pseudônimo de Paulo Sérgio Marques, natural de São Paulo-SP e residente em Mato Grosso até sua morte, em 2018. Publicou os livros de poesia Primeiro (2004), Outro (2008), Três tigres trêfegos, em coautoria com Juliana Roriz Aarestrup e Henrique Roriz Alves (2010), e Selvagem (2013); e os livros de contos Ângulo bi, em coautoria com Marcelina Oliveira, Paulo Sesar Pimentel e Gisele Mocci (2002), Correspondências (2012) e Sósias (2015). Algumas de suas obras obtiveram premiações nacionais como, dentre outros, o Prêmio Sesc Monteiro Lobato de Conto Infantil (1º lugar, em 2009 e em 2010), o Prêmio Sesc Machado de Assis de Contos (2º e 3º lugares, em 2009 e 2011, respectivamente), o Concurso de Contos de Ituiutaba Águas do Tijuco (1º lugar, em 2012) e o Prêmio Cataratas de Contos e Poesias (3º lugar, em 2015).
DECÁLOGO PARA O NOVO ARTISTA
I
Que esteja acima da Arte
a atividade de amar-te.
Em cada pranto ou sorriso,
o teatro de Narciso:
apenas tu em toda parte.
II
A tela, a voz que compões,
refrão de tuas ambições,
gritem em templos, paredes,
museus, concertos e redes,
mas nunca nos corações.
III
Nenhuma dor te reprima
- a pobreza é obra-prima:
pinta, com tinta dourada,
a reza da favelada
na chave-de-ouro da rima.
IV
Tua obra seja bem quista
e agrade o padre e o acionista,
que mesmo frase blasfema,
teu erro será um poema
e, sem arte, serás um artista.
V
Que as crianças, com suas fomes,
mudem em ouro os teus nomes,
sem mudar a economia:
alimentos a poesia,
elas morrem e tu comes.
VI
Se dom tiveres, espreme-o
na regra da academia,
que a gratidão de algum grêmio,
em breve, te alcança o prêmio
que o dom não alcançaria.
VII
Em peça de óleo e carvão,
a imagem do teu irmão
assaltado e agredido
orne a casa do bandido
e bem te pague o ladrão.
VIII
Descuida do essencial,
urgente ou do genial;
mas cuida sempre do traje,
da selfie e da vernissage
na coluna social.
IX
Faz, da Beleza, arma e luta;
de cada obra, disputa;
de todo outro, um rival;
do teu gênio, um dom venal;
e da Arte, tua prostituta.
X
E, se faltar vocação,
ensaia a bajulação,
escreve um verso servil.
Com fraude, suborno e ardil,
ninguém morre charlatão.