Sammis Reachers
Nasceu em 1978 em Niterói, mas desde sempre morador de São Gonçalo, ambos municípios fluminenses, Sammis Reachers é poeta, escritor e editor, autor de dez livros de poesia e dois de contos, organizador de mais de quarenta antologias e professor de Geografia no tempo que lhe resta – ou vice-versa.
CARTA À CIDADE ENGRANDECIDA
Triturandário
Labirintopia
Indústria encapatória
Saloon dos Emancipados
Grande cabeça-de-ponte-para-trás, retorno ao útero
Caixa rotatória
Skyline das mais altas
empáfias
veneno de rato pra finalizar os pequenos
marsupiais
chamados de empatia
ultraurbe
gestante duma gravidez de risco
cujo parto nunca acontece
mas todo dia quase
o dia todo um susto
saciado a pão e circo e cocaína
(r)efervescência, prostituição
do espaço em esmerada arquitetura
prostituição dos últimos,
teus pilares:
quebra sistêmica da cadeia fraternal
ilha fiscal
solidão arquitetada
fogo frio
heterotumba de LED
dos mortos-vivos
despátria púnica
CARTA À PRAÇA
Acontecedouro
Marco urbano, campo de insurgência
Do matagal
Lugar de apoio
De outros tantos tão lugares
Amortecedouro
Do fluxo antrópico
Canino, felino
Depositário de efígies
Historial da micro-história
Educandário da paz vadia
Grande taba destapada
das aldeias de paralelepípedo e asfalto
Lugar-cratera em meio aos não-lugares
Civilizado maldito depósito humano
Toda urbe é um acidentado, um corpo maculado
de mil ranhuras, fraturas, lacerações
- Praça, esparadrapo estético
Encobrindo da urbe as cicatrizes -
Topofrenagem,
ilha d’oceanos secos que não sangram
Área de praticagem
Do futebol com o ansiado ou inesperado filho
Do primeiro beijo do jogo de damas do primeiro
trago num cachimbo de crack
e noutros tombos da liberdade