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Rubenio Marcelo

É poeta, compositor e crítico, membro efetivo e atual secretário-geral da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (Cadeira nº 35) e membro correspondente da Academia Mato-Grossense de Letras. Autor de 12 livros publicados e 3 CDs. Recentemente, lançou o livro “Palavras em Plenitude – prosa e crítica cultural”, e o CD musical “Parcerias: na poética de Rubenio Marcelo”. É um dos autores homenageados no livro “Vozes da Literatura” (FCMS), reunião de autores contemporâneos. Também advogado e revisor, reside em Campo Grande/MS.

GRAVITAÇÕES AZUIS

muito além de um lampejo,
 são eternas
estas inesperadas flamas...
– este mergulho 
azul 
com aroma de silêncio.

e sempre exerço
esta pira de seivas pendoadas
que me faz esquecer
dos dilemas do cotidiano
e da urgência hermética 
                dos organogramas
– contemplo o essencial.

e aqueço-me
na leveza dos gorjeios alados
que adornam 
o meu matinal olhar
com o graveto do ninho
daquele pássaro cor de céu...

O DESGUARDADOR DE DORES

I.
em suas retinas 
as imagens imóveis não codificam
as ânsias que lhe habitam...
e não pela vez primeira
um sorriso urgente molda-lhe o semblante
adolescendo as esperas 
e contemplando o segredo das auroras...

 

II.
quais mármores espedaçados
suas palavras pedem o gume do vazio
pois os organogramas das manhãs
já diluíram o faro das suas reminiscências...
e mais uma vez os sabiás de voos dourados
que lhe gorjeiam e apontam o sol
desatestam o óbito do devenir

 

III.
sem surpresas
cortando o pulso das horas
lateja em sua fronte
a mesquinhez acrobática do cotidiano...
e novamente amadurece em seu olhar
o néctar que reinventa os jardins
que colorem os colibris do sonho

IV.
a flor negra na lapela do tempo
espreita os seus passos matinais
enquanto os arranha-céus da solidão 
ocultam o sorriso dos flamboyants...
e salvaguardando-se com silêncios
ele grita a liberdade
sempre assim...

V.
e assim ele segue
sempre
e sempre
aguardando andores
desguardando dores...

E s p Ǝ l h o

ah 
este  espelho  reflete-me em cada traço
cada gesto
cada cor

na sala, no quarto, no banheiro...
ei-lo sisudo

mostrar-me
o semblante

de cada dor.


uma dor que me reflete em cada espelho
cada sestro
sem compasso

na sanha da refrega, trafega
sobre tudo

prostrar-me
invigilante

em cada passo.

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