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Rodrigo Maciel Meloni

É um escritor/jornalista cujo trabalho já apareceu na Veja, Globo e UOL e diversas outras publicações. Ele é o autor do livro “Pobre do homem cujos desejos dependem”, e responsável por produtos jornalísticos como Vidas Transformadas e Be Gay, NO Way. Contribui regularmente escrevendo poemas para a Revista Literária Pixé.

UMA VOZ POUCA GRITAVA AO LUAR, 
COISAS QUE ALMAS DESNUDAS PROCURAM OCULTAR

Bolo de queijo feito com polvilho em cima da mesa miava, enquanto uma loucura de sabores de fazenda, entrelaçados ao pôr do sol festivo da fazenda morta de vovô, jazia cansada próxima ao rio febril. 

Era tudo o que tinha aquele pé da serra. 

Aves passavam em sentido horário, hora sim, hora sim. As árvores, sentadas embaixo da sombra de outras árvores, teciam fofocas sobre os arbustos, másculos arbustos, e suas intenções reprodutivas. 


No canto, ao lado do pé de galinheiro, nascia um feroz riacho, que, correndo rápido para o sul, tentava se tornar rio. Faltava-lhe corpo, entretanto. Vontade não! Mas água ele não tinha. E dele, as galinhas riam baixo. 


Um gato malhado dormia perene, sem se preocupar com o sol. A brisa leve o acalmava. Ela, que descia gelada da montanha carente, fazia clima ser amigo.


Apesar de ali ser um lugar longe – demorávamos dois ciclos de lua para naquele ponto chegar -, a família toda se divertia numa independência de dar gosto. Crianças em ciranda, animais a postos, ariscados pela confusão, mas sábios de que nada de mal imperaria por ali; tornavam o quadro que se via um trem bonito de se ver. 


Uma senhora cerrava dente e prendia língua de jeito engraçado enquanto mirava linha no buraco da agulha.

Ali, ao pé da serra, era tudo que se tinha.

Um boi cantava vacas de suspiro, e outro boi olhava melancólico o sol chegar rasteiro. Via seu amigo cantante tropeçar em algodões de poesia, poético boi a cantar.


A dona da agulha, que costurava vidas e emendava mortes com a linha do tempo, conversava crianças, entre lábios de mel. Ao final de seus contos, eram todas elas velhos de novo, gastos pelas palavras de Cronos.

E isso, era tudo que havia no pé de serra.

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