Rodrigo Maciel Meloni
Jornalista, ativista gay e estudioso da comunicação de massa, o escritor que já teve contos publicados em diversos blogs, sites mato-grossenses e nacionais, se aventura na publicação de seu livro de estreia: Coitado do homem cujos desejos dependem. Estudioso do underground cuiabano e aficionado pelas manifestações artísticas, já colaborou com diversos compositores de bandas do submundo cultural, assessorou festivais de cinema e exposições e colabora, sempre que pode, com a destruição do status quo.
CARÍCIA DE SETE PONTAS
(à Francis Petini)
Quando corro paralelo ao universo que criamos, percebo o tamanho dos mundos que nos une.
Estrelas brincam de ciranda, bem felizes, quando lanços sorrisos largos, e com eles crio constelações de amor gigante.
Quando passo ao teu lado, e em ti jogo um olhar tímido, pois quero te ver para sempre, e grava-lo em minha retina, sem que percebas que me tornei um psicopata do amor, sei que ganho a simpatia de alcateias de pequenos cachorrinhos fofinhos de foto de rede social.
Amo-te o amor brega, aquele de verdade, que pensa que é pra sempre, que tem certeza que o amor existe, o amor bobo, leve, que quer sentar domingo final da tarde na varanda e te ver passar da sala pra cozinha.
Meu amor por ti corre do tesão ao mar, do carinho ao par, do querer ti em meu lar.
Meu amor por você constrói casa sem muralha, cozinha sem pia, cortina sem vazo, faz poesia torta na cabeça do seu, agora,
velho psicopata.
Inveja o sol e seus raios, pois brilha mais. Inveja a lua e seus mares, pois ama mais.
Brinca de ser criança e namora como gente grande, só pra voltar a ser criança e ter a vida inteira pela frente, na certeza de te ver chegar à porta da casa nossa.
Meu amor por ti faz ciranda e ganha sorriso de bebê, cumplice da nossa felicidade.
Faz gato pequeno miar baixinho, um miado que diz ‘amor’.
Faz pai e mãe torcerem pela gente, e amigos e desconhecidos também, porque nosso amor escreva na cara da gente que ser feliz faz o mundo melhor, faz planta nascer, faz bicho correr em campo aberto, idoso dançar, carro parar, nuvem abrir, chuva chover, sol descer, frio abraçar e calor amansar.
Nosso amor faz tudo, me disse uma estrela
POEMAS ENTRELAÇADOS DE UMA NATUREZA AUXESE
Poemas entrelaçados de uma natureza auxese
Sei que faculto durar
dentro de uma árvore-passarinho
quando estou livre-nu
em campo inaugurado: meu peito.
Perplexo e franco, natureza folha-queimada, boto rosa choque,
corro instantâneo, animoso e servil,
como cobra que quer depositar veneno na corrente-sangue doutrem.
Pendurado no céu do boca do mundo,
me encosto Nele, um atrevimento de rio que passa cansado;
Enraizo, pois nuvem carregada de raios disse sim para mim;
Um tanto de folhas ao cair, com sol ao fundo, peixe com escamas que brilham dia sim, dia não, noite afora, manhã adentro, formam imagem bonita para olhos secos.
Da natureza esquizofrênica que começa apoucada em algum posto do meu eu mais selvagem, e desaba do topo do vulcão que escondo na parte esquerda da minha razão, arranco um início constituído.
Progresso com uma qualidade mutante/doutrinada, me tornando hemisfério do que serei adiante, vigiando o passado se tornar momento, o futuro se aventurando em possibilidades.
Findo retirando cores do ar com as quais pinto minha passagem pela esfera armilar;
um amiúde de furta-cor facilita a fuga de palavras que não quis rabiscar, e que tomam a liberdade de me biografar.
Ela, a natureza, que faz, por eternos segundos eternos, faz...o que ela faz por mim?
Já sei! Me obriga a ser aquilo que eles querem que eu seja: rio sem curva, deitado em chuva branda.
E, sem esquadro pra dar precisão ao texto-poema que sai da ponta dos meus dedos, e que não sabe se é lírico ou épico, e só é, continuo a fluir em paz, concórdio como bebê recém-nascido, confuso como uma psicose.