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Renato Medeiros
Artista visual e pesquisador em arte contemporânea. É Doutor em Artes Visuais pela Universidade de Brasília (UnB), jornalista cultural e membro fundador do LABIRINTO, espaço dedicado à pesquisa, criação artística e formação em artes, localizado em Cuiabá-MT. Em 2021, foi premiado em 1º lugar no Salão Jovem Arte MT, na categoria Pintura.

| MATÉRIA PLÁSTICA |

 

OS CORPOS VIVOS DE ÉMERSON PERSONA E SUAS PINTURAS QUE TROCAM DE PELE

Se um corpo é o conjunto de partes que compõem um organismo vivo, então talvez seja possível inferir que as obras do artista brasileiro Émerson Persona são como corpos vivos que flutuam no espaço bidimensional. Corpos cujas partes são feitas de tinta e de recortes de trabalhos artísticos anteriores, fluindo em ciclos de retroalimentação e estabelecendo o movimento como uma constante da prática artística. 
Dessa maneira, o artista ressignifica sua própria trajetória, criando uma espécie de cadeia alimentar de si mesmo, como se as obras precedentes mudassem de pele a cada novo trabalho e essa transformação descortinasse outros modos de expressão para elementos já conhecidos. Tal qual um lagarto que devora a própria pele e faz disso um ritual de renovação. Émerson Persona renova sua arte ao devorá-la, degluti-la e devolvê-la ao mundo com outros contornos e outras recombinações cromáticas, nem sempre remetendo à representação figurativa do mundo animal ou vegetal.
Esse processo um tanto antropofágico institui novos corpos imaginados, mas não necessariamente reconhecíveis, como são as figuras humanas. Também produz corpos abstratos, revelados nas imagens como criaturas vivas pairando suaves, seguindo seus respectivos fluxos de mutação. Criaturas que inauguram formas particulares, a partir dos enquadramentos ou lacunas deixadas nas grandes áreas de tinta que recobrem a pintura anterior. Esses hiatos são como janelas que nos permitem ver pedaços de um passado pictórico, incorporando assim uma dose de mistério à nova criação. Afinal, as partes visíveis já não dão acesso ao todo. Elas são delineadas pela pintura final, que serve, ao mesmo tempo, de invólucro e de parede, brincando com a percepção figura-fundo.
Nas obras do artista, portanto, nem tudo está escondido e nem tudo aparece. Há um jogo de máscaras, com olhos vazados e outros recortes em sua superfície. É por meio desses recortes que seus corpos de cores se movimentam e se atravessam aos pedaços, mesclando-se em novas formas e ressignificando as relações entre os trabalhos. Uma dinâmica muito próxima das máscaras de recorte do Photoshop, que não apagam e nem dividem a imagem, apenas escondem as partes que vão além dos limites do molde, realçando as demais.
Émerson Persona não apaga suas imagens. Ele as incorpora como matéria-prima de uma metamorfose progressiva, criando organismos vivos, com muitos fragmentos velados, entre tantos outros visíveis. Criaturas feitas de outras criaturas. Assim como nós.  

© 2019 - Revista Literária Pixé.

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