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Anna Maria Ribeiro Costa

É doutora em História pela UFPE e Professora do Univag. Chegou às terras do povo indígena Nambiquara na Primavera de 1982. Dos índios recebeu o nome Alusu, por conta de seus hábitos alimentares. Nessas terras, conheceu José Eduardo, com quem tem dois filhos: Theo e Loyuá. Vem se dedicando aos estudos sobre os povos indígenas de Mato Grosso, com especial atenção ao Nambiquara.

RECLUSÃO DA MENINA-MOÇA

Vem do tempo mítico, aquele que não se conta, o hábito de reclusão da menina-moça quando ocorre a menarca. Na aldeia, mãe e filha não se entendiam. Preguiçosa, avessa aos afazeres domésticos, nada fazia com que a menina atendesse aos apelos da mãe em acompanha-la ao córrego para pegar água, lenha na mata, tubérculos na roça. Gostava mesmo era de ficar deitada, ao redor da fogo, a observar a movimentação do dia.
Enfezada, a mãe resolveu castigar severamente a filha. Prendeu a menina em uma casa de palha, só para ela. Por vários dias, muitas vezes, entrava na casa para dar banho na filha. Nem bem o corpo secava, outro banho, outro banho, outro banho... O corpo não dava conta de esquentar. A mãe continuava a dar banho na filha que, aos prantos, queixava-se de frio. Depois de algum tempo, a casa em silêncio chamou a malvada mãe. Lá estava sem vida o corpo da menina.
Foi a partir desse fato que o povo Nambiquara decidiu prender quando ficassem menstruadas pela primeira vez. Mas, diferentemente, a reclusão não levava-as à morte. Com uma casa específica para essa finalidade, a menina em reclusão recebe tratamento cordial, boa comida, bons conselhos para a vida de mulher adulta. Nesse espaço, a jovem permanece por um período de uma lua, apenas se ausentando ao entardecer para participar das festividades, quando dançará, de mãos dadas, entre seus padrinhos, os escolhidos para acompanharem-na durante a comemoração. O tucano, yalansu, de plumagem excepcional, foi o criador do ritual. A fim de trazer alegria à aldeia, ordenou ao pajé que se responsabilizasse pela grande festa.  Para isso, ensinou-lhe cantos e a confecção de adornos para vestir com belezura a menina. Todos acreditam que a festividade traz boa saúde à homenageada. 

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