

Raquel Naveira
É escritora, professora universitária, crítica literária, Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, autora de vários livros de poemas, ensaios, romance e infanto-juvenis. Pertence à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (onde exerce atualmente o cargo de vice-presidente) e ao PEN Clube do Brasil.
RUBENS - ARTAUD
Rubens Corrêa,
O ator,
Encarnava Artaud,
Ele era o seu duplo
Assistindo-se a si mesmo.
Rubens penetrava no domínio da dor,
Da sombra,
Do nada,
Experimentava o vazio
Da alma de Artaud.
Gemia,
Contorcia-se
Explodia de angústia,
O sangue gelava em suas veias
A cada grito de horror.
O ser tem estados inumeráveis,
Perigosos
E o misticismo do poeta
Não era delírio,
Era poesia e fulgor.
E os olhos de Rubens?
Negros de sofrimentos,
Esbugalhados,
Cresciam nas órbitas
Como se saíssem de cavernas
E, ao mesmo tempo,
Azuis de langor
Como os de Artaud.
Na boca de Rubens
Havia sede de beijos
Que arrastariam para a morte e o torpor,
O gosto de uma boca de mulher
Que perseguia Artaud.
Rubens amava o sol,
A terra vermelha de Aquidauana,
As montanhas,
Por isso compreendia como Artaud amava o México,
O tesouro do imperador.
Rubens desenhava no ar girassóis,
Molhos de feno,
Tempestades
Como se fosse um pintor,
Para ele Van Gogh era gênio
Suicidado
Como Artaud.
Em seu monólogo
Ficava possuído,
Rodeado de corvos,
Sufocado por espíritos;
Era Rubens que amedrontava
Ou a lucidez superior de Artaud?
Quantas verdades insuportáveis!
Quanto valor na loucura!
Rubens dava forma à ameaça
Que era Artaud.
Fingidor,
Rubens foi o ator
Que melhor representou Artaud.