Plínio Marcos (1935-1999)
Foi um escritor brasileiro, famoso por suas peças de teatro, tais como: Barrela (1958), Dois perdidos numa noite suja (1966) e Navalha na Carne (1967).
NAVALHA NA CARNE
(Trecho)
VADO – Gosta de fumo, é?
VELUDO – Sou tarado.
VADO – E por que fica gastando dinheiro com os pivetes? Por quê, hein?
VELUDO – Ah, Seu Vado...
VADO – Você gosta mais de maconha ou de moleque?
VELUDO – Cada coisa tem sua hora.
VADO – Bichona malandra!
VELUDO – Deixa eu bicar, Seu Vado.
VADO – Pega aqui. Na minha mão
VELUDO – Que bom. (Tenta agarrar o cigarro.)
VADO – Não vale segurar.
VELUDO – Como o senhor é mau, Seu Vado.
[...]
VELUDO – Que homem bruto, meu Deus! Vado, deixa eu fumar!
VADO – Ainda sou Seu Vado para você. Perdeu o respeito, seu miserável?
VELUDO – Homem que me judia eu não chamo de senhor. É Vado e olhe lá.
VADO – Te dou uma porrada que você vê.
VELUDO – Dá, então. (Vado bate em Veludo.)
VADO – Gostou?
VELUDO – Bate mais.
VADO – Nojento!
VELUDO – Bate, seu bobo, bate.
(Vado fica vencido, impotente.)
VELUDO – Você viu, Neusa Sueli, como a gente lida com homem?
VADO – Cala a boca, bicha!
VELUDO – Vem me bater, seu trouxa!
VADO – Você vai ver, bicha louca!
VELUDO – Pode bater. A cara está aqui.
VADO – Veado! Veado de merda! Porco nojento! Ladrão sem-vergonha!
VELUDO – Bate em mim, machão. Bate nessa face, te viro a outra. Como Jesus Cristo.
VADO – Bicha é uma desgraça