Pablo Rezende
É filho de dona Ilda, poeta e professor de Língua Portuguesa, Literatura e Redação da Rede Pública do Estado do Mato Grosso. É graduado em Letras – Português/Inglês pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Mestrando em Estudos Literários pela Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT). É autor do livro O dever e o haver, publicado pela Literata, em 2011. Têm poemas publicados em várias antologias poéticas nacionais e internacionais.
RENASCIMENTO
Depois da Queda
Como um fogão de oito bocas
A ansiedade tem consumido os dias
as dúvidas, as dores
as vírgulas os pontos
A ansiedade tem se alimentado dos grandes movimentos
Suas bocas seus dentes suas línguas
impossibilitam que eu percorra grandes distâncias
Aprisionado a mim à minha futilidade
Um metro um quilômetro uma légua
terrestre ou submarina
O falo a foice o fogo
Tudo me parece amplamente distante
os corpos os copos os escopos
Tudo me parece
nada me faz parte
Como Prometeu acorrentado
O Caos tem me atormentado
ininterruptamente
Sob as correntes de minha derme
Cimentado a mim à minha miséria
Permaneço distante
à luz e à escuridão das coisas naturais
Ao imenso Avestruz
que devora não somente o fígado
(pois o álcool já o consome)
todo o organismo
toda a musculatura
toda a ossatura
dia
após
dia
Muito tempo depois da Quebra
Acoplei a mim a necessidade do renascimento
5 mililitros de Clonazepam
15 miligramas de Mirtazapina
75 miligramas de Venlafaxina
Como Vênus
Eu (re)nasço
Sob o efeito de doses cavalares
As dores e as dúvidas
Se dissipam
Os pontos, as vírgulas
Se presentificam
Eu feito cavalo
Solto pela superficialidade selvagem
Percorro descalço
A pele em contato com o solo me permite florescer
A pele em contato com o sal me permite anoitecer
Flor e Estrela
Flor ou Estrela
Os antidepressivos me permitem
ser o que eu deveria e não sou.
Inibem
Selecionam
Captam
Entre pontos e vírgulas,
Serotonina, Noradrenalina, Dopamina.
Renasço.