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Olga Maria Castrillon-Mendes 
É professora do Curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT, dos Programas de Mestrado Profissional em Linguagem/PROFLETRAS e Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários/PPGEL/UNEMAT. É Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres e da Academia Mato-Grossense de Letras; Líder do Grupo de Pesquisa “Questões históricas e compreensão da literatura brasileira” (CNPq/UNEMAT/2002). Integra os Grupos: RG Dicke de Estudos em Cultura e Literatura de Mato Grosso (CNPq/UFMT). É autora de Taunay viajante: construção imagética de Mato Grosso (Cuiabá: EdUFMT, 2013) e Discurso de constituição da fronteira (www.unemat.br/publicações/e-book, 2017), além de artigos em periódicos e coletâneas nacionais e internacionais.

ENTRE RUÍNAS, REVELAÇÃO E EXPERIÊNCIA POÉTICA

No contemporâneo das urgências e da fluidez, pensar o objeto artístico-literário implica refletir sobre o ser humano em suas tensas relações na sociedade. Perante as assimetrias que privilegiam a produção do eixo hegemônico, em detrimento da produção das “margens”, as urgências se pautam nas diferenças e no reconhecimento dos sujeitos, frutos das identidades híbridas, mestiças, fronteiriças. Os loci diferenciais de enunciação tendem hoje a deslocar o foco da análise convencional, buscando a estética questionadora da tradição. A contemporaneidade caleidoscópica, com predomínio das mídias, das redes sociais e dos debates sobre o futuro do escritor, do leitor e da própria literatura, impõe a sobrelevação dos apagamentos históricos. Até que ponto o projeto literário (ou profético), de um escritor, toma a palavra como instrumento de luta, de denúncia e de transformação social? Tematizar os problemas sociais inscreve o político na poesia, marcando o espaço da libertação pela palavra? Se o poeta-profeta é aquele que “grita com os olhos”, está atravessado por um projeto de natureza ética que comporta certa visão do homem e do mundo. Então, a literatura se anuncia e se autodefine pelos fins que persegue no mundo, em movimento, muitas vezes, circular? Ao projetar sonhos, aspirações, imagens de um mundo possível, a poesia convoca e une forças em prol de uma luta comum. Está entre as ruínas e a revelação, entre a política e a subjetividade, a tensão e a intenção. Nesse sentido, palavras são estilhaços. Esbarram nos silenciamentos coletivos. Muitas causas valem por uma vida; outras, são mais que a própria vida. Pelas causas se constroem imagens que se cristalizam e se transformam em lugares de memória. É, como escreve Pedro Casaldáliga (Cantigas menores, p. 60), “fazer do povo submisso/um povo impaciente. Fundir os muitos córregos/numa torrente”. Pura força telúrica em que o direito à literatura se amplia para o direito de dizer. É o papel ressignificador de homens e mulheres, mas também de uma geografia.


Estaria a obra de Casaldáliga entre a dimensão profética e temporal? Na busca pela liberdade do povo, a força telúrica está em curso, é água corrente, metaforizada no e pelo sentimento, mas é também enunciação. Tanto a linguagem quanto a dialética humana acercam-se das condições de produção capazes de dar sentido às manifestações (e revelações). Vai o poeta, fica a obra para desordenar a realidade e/ou reinventar as experiências pessoais no horizonte do que se concebe como mundo.

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