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Olga Maria Castrillon-Mendes 
É professora e pesquisadora da literatura brasileira. Autora de Taunay viajante: construção imagética de Mato Grosso (Cuiabá: EdUFMT; Cáceres: EdUNEMAT, 2013); Discurso de constituição da fronteira de Mato Grosso www.unemat.br/editora, 2017 e Matogrossismo: questionamentos em percursos identitários (Carlini & Caniato, 2020).

FUGERE URBEM

U ma das características do movimento arcádico, que surgiu em contraponto ao exagero da arte barroca, é o Fugere Urbem (fuga do urbano). Valia mais a simplicidade e o contato com a natureza do que os arabescos e detalhes considerados supérfluos. A alternativa da vida plena residia no espaço bucólico, intensificado no Romantismo, com marcas de loucura, isolacionismo, devaneios e até mesmo a morte, ou o mundo idealizado na figura do herói. A fuga, nesse contexto, residia na busca de uma realidade mais tranquila, longe do barulho das máquinas nas cidades em processo de industrialização. A burguesia se afasta para o campo e cria ambientes utópicos. Farto terreno para a criação. 
No imaginário popular, de alguma forma, esses ideais continuam, seja no culto ao herói, seja na idealização do amor e da vida plena e realizada. Quando Manuel Bandeira lança seu libelo ao escapismo, com o conhecido “Vou-me embora pra Pasárgada”, o Modernismo ressignifica a estratégia da reinvenção e da desterritorialidade. Reside, então, na Arte, as possibilidades de poder ser qualquer coisa, em qualquer mundo, em quaisquer situações impossíveis e inimagináveis. 
Em toda a história da civilização humana a Arte expõe o mundo, desnuda-o pela visão crítica do artista, cuja linguagem expressa ideias, sentimentos, crenças e emoções. É também denúncia, nem sempre agradável. Essas vivências de outros mundos são fugas. Hoje atingem o virtual. A tecnologia transforma os olhares, amplia o acesso e nos coloca em tênues fios da navalha. Nessa progressão, será a tecnologia que nos levará à sonhada utopia? A realidade torna a imaginação possível, ou é exatamente o oposto?  
A realidade em si não basta. O que é, por exemplo, uma tela, uma música, um jogo virtual, um filme, senão a representação do mundo idealizado, aquele que todos gostaríamos de viver (ou não), mas que se torna totalmente inalcançável? A vida como num jogo seria desejável?
Se pela arte podemos ser quem e como quisermos e criamos mundos e situações impossíveis na vida real, saber mentir bem é a grande sacada da ficção. Quando esses estímulos são colocados em ação, proporcionam mudança de olhares e, consequentemente, de atitudes. Que venham os mundos e suas complexas criaturas. 

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