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Olga Maria Castrillon-Mendes 
É professora e pesquisadora da literatura brasileira. Autora de Taunay viajante: construção imagética de Mato Grosso (Cuiabá: EdUFMT; Cáceres: EdUNEMAT, 2013); Discurso de constituição da fronteira de Mato Grosso www.unemat.br/editora, 2017 e Matogrossismo: questionamentos em percursos identitários (Carlini & Caniato, 2020).

A ARTE É REALIDADE OU TRANSFORMAÇÃO?

Nos dois últimos números da Pixé tenho refletido sobre a capacidade de representação da arte como objeto da crítica ou da estética e a liberdade do artista perante a “realidade”. A leitura de Argumentação contra a morte da arte, de Ferreira Gullar¹ trouxe-me outros patamares de reflexão, à medida que sua abordagem gira em torno do desaparecimento da arte da representação num mundo cada vez mais preocupado com o efêmero e, ao mesmo tempo, para ele, com a “evolução”.  
Muitas manifestações estéticas ocorreram depois da escola impressionista, resultando na utilização da arte como mercadoria. Pergunto se o ato de redescobrir (e não desaparecer) é a grande revolução do contemporâneo, ou inibiu-se o juízo crítico? O fato de o objeto artístico ligar-se ao novo, não como permanente ou transitório mas como certa revisita ao passado, diz muito sobre a linguagem artística que dá ao objeto representado o poder de não se perder. A realidade é um incessante transformar-se, muito diferente, por exemplo, da ideia de identidade unívoca. Por outro lado, entre o objeto arte como fruição estética de uma experiência criadora e a sua utilização como mercadoria, onde ficam a contemplação e o resultado das subjetividades?
Romper é preocupação do contemporâneo, no entanto, o novo não é permanente. Há sempre algo do passado. A existência das coisas são questionadas à medida que a prática das imagens representativas do mundo passam pelo olhar do observador. É produto histórico e de certos exercícios, técnicas, instituições e procedimentos de subjetivação. Fruto, portanto, das relações simbólicas de produção.
Como toda arte, a realização do realismo estético expressa-se de forma contraditória e incompleta, em função dos limites histórico-ideológicos e, principalmente, dos movimentos oriundos da sociedade. É, portanto, dialógico e objetivo. Deriva das contradições mundiais, principalmente, considerando a relação de produção literária com os processos de formação dos Estados nacionais, como colocado em texto anterior. Por isso, as obras realistas são inquietantes indagações para além da opressão e injustiças desacomodadoras, como aquelas causadas pela leitura do texto de Gullar. Embora possa ser lido como conservador, ao trazer as noções de subjetividade e espiritualidade da arte, artistas apontam sempre para novas atitudes que podem estar bem distantes da ideia da derrota ou morte. 

¹ 3 ed. RJ: Revan, 1993.

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