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Olga Maria Castrillon-Mendes 
É professora do Curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT, dos Programas de Mestrado Profissional em Linguagem/PROFLETRAS e Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários/PPGEL/UNEMAT. É Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres e da Academia Mato-Grossense de Letras; Líder do Grupo de Pesquisa “Questões históricas e compreensão da literatura brasileira” (CNPq/UNEMAT/2002). Integra os Grupos: RG Dicke de Estudos em Cultura e Literatura de Mato Grosso (CNPq/UFMT). É autora de Taunay viajante: construção imagética de Mato Grosso (Cuiabá: EdUFMT, 2013) e Discurso de constituição da fronteira (www.unemat.br/publicações/e-book, 2017), além de artigos em periódicos e coletâneas nacionais e internacionais.

PELA ÉTICA DA PALAVRA

Muito do que se tem vivenciado das temáticas expostas por esta Revista Literária causa prazeres e incômodos. Bom que seja nessa ordem, pois o que é captado pelo olhar precisa ligar-se aos efeitos causados nos (e pelos) sentidos. Como, então, tenho sido levada a pensar na relação do leitor/observador comum, aquele distante dos conceitos (e preconceitos) perante o objeto artístico, incluindo aqui as artes, em geral, e a literatura, em particular? No caótico mundo contemporâneo, que momentos de êxtase, maravilhamento, comiseração, repulsa ou ódio, injetam adrenalina no olho que vê/sente/absorve imagens? O que é “bom” para os leitores em geral? 


O “sumo bem” postulado por Aristóteles dizia respeito ao interesse da polis e atingia apenas os cidadãos que dispunham de recursos e tempo livre para se expressar em praças públicas, assumindo a voz do povo. Dessa forma, a distribuição do bem era desigual e a história foi escrita pelos padrões elitistas. O papel da crítica, mesmo que timidamente, tem procurado se pautar na expansão e ampliação dos gestos de resistência que visem à democratização da arte, livre e acessível ao coletivo, de forma a legar aos sujeitos o direito de narrar. Antônio Cândido defende o intelectual consciente do seu lugar de fala sobre o outro. Spivak reivindica o acesso irrestrito ao texto literário e o lugar do subalterno como enunciador de sua própria condição. O direito à literatura se amplia para o direito de narrar, de tal forma que o político e o estético atuam no sentido de quebrar paradigmas e apagamentos da história. Não mais os donos do poder de fala, mas os agentes sociais da história, colocando em perspectiva o (não) canônico e a representação imagética redutora a uma única versão, ao monolitismo das identidades, sem que haja possibilidades de representação da diferença e da alteridade.  


Deste modo, ser contemporâneo é receber em pleno rosto o facho de trevas que provêm do seu tempo, como fala Giorgio Agamben. Então se explicita uma ética contemporânea da palavra no sentido de ser capaz não apenas de manter fixo o olhar no escuro da época, mas perceber, nesse escuro, as infinitas possibilidades no que há de mais recente. Então, o escuro não é ausência de luz, mas resultado de uma atividade especial da nossa retina. Creio ser esta a proposta doce/amarga da Pixé.

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