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Olga Maria Castrillon-Mendes 
É professora do Curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT, dos Programas de Mestrado Profissional em Linguagem/PROFLETRAS e Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários/PPGEL/UNEMAT. É Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres e da Academia Mato-Grossense de Letras; Líder do Grupo de Pesquisa “Questões históricas e compreensão da literatura brasileira” (CNPq/UNEMAT/2002). Integra os Grupos: RG Dicke de Estudos em Cultura e Literatura de Mato Grosso (CNPq/UFMT). É autora de Taunay viajante: construção imagética de Mato Grosso (Cuiabá: EdUFMT, 2013) e Discurso de constituição da fronteira (www.unemat.br/publicações/e-book, 2017), além de artigos em periódicos e coletâneas nacionais e internacionais.

PIXÉ COM SABOR DE ARTE E LITERATURA

 

Há um ano surgia a Revista Pixé no cenário cultural brasileiro pelas mãos do entusiasta escritor Eduardo Mahon. Só o seu idealizador já seria selo de garantia do sucesso imediato de que se revestiu. Mahon é daquelas pessoas que, além de estudioso, é um pesquisador contumaz. Dá o toque de ouro em tudo que faz e o faz com a dedicação necessária a tornar permanente seu objeto de trabalho. 


Pixé logo se revelou essencial alimento do espírito. Não é à toa que a denominação de que se reveste está ligada ao paladar. O nome é produto de consumo, mas é também produto histórico resultado de um processo em que as instituições legitimam e a história cristaliza o fazer individual e coletivo.  


Ao nomear garante-se a posição enunciativa e se constrói o objeto em meio à diversidade das relações de produção; contabiliza o que se torna conhecido, fazendo funcionar os sentidos que se fixam como determinantes. Assim, Pixé institui o conteúdo do imaginário, permitindo dizer que já faz parte de uma história e de uma formação social determinada. Estabelece-se como objeto memorável passível de reconhecimento. A tal ponto que passa a construir o futuro pelo presente/passado, pois é evocador de uma relação de origem. 


A demarcação desse lugar está no sentido atribuído ao termo. Pixé rememora uma fronteira regional que legitima o global à medida que fornece visibilidade ao novo no panorama de produção local. Quem não se lembrará do conhecido sabor da paçoquinha da infância cantada em versos, o típico doce preparado à base de milho, açúcar e canela, convencionado a ser afrodisíaco? Crenças à parte, mas convenhamos, vicia. É o que se espera! 


Na simpatia da denominação, Pixé nasceu para ser um marco na produção de Mato Grosso. Por que? Conflui para o hibridismo do contemporâneo, unindo o conteúdo literário a um enquadramento artístico. Em que essa fusão impacta no leitor? Atinge os sentidos pelo envolvimento no instantâneo das cores, rabiscos e traços que, unidos à palavra, fornecem o conjunto estético necessário ao desenvolvimento do olhar em variadas direções. É online. Embora dificulte a leitura dos olhares mais acomodados, carrega o irresistível fascínio da imagem. Um procedimento que Ezra Pound atribui à “dança do intelecto entre as palavras”, definindo o espaçamento harmônico de certo tom de diálogo com a memória do leitor.


No momento em que a novidade da proposta evoca a tradição trazida pelo doce, traduz-se o multicultural, revelador de nascimentos: do formato da leitura para além do convencional e de uma geração literária que rompe com a normalidade constituída, tal como já se viu em tempos passados com os periódicos que fizeram história em Mato Grosso. 


Levando em conta o seu alto grau de especificidade literária, lugar em que surgem escritores já conhecidos e estreantes, é de se relevar o lado artístico de Pixé, feito por um atrativo designer em que se revelam artistas plásticos de várias partes do Brasil e do mundo. A cada número, uma novidade que radicaliza a dimensão visual e verbal. A literatura e a arte na confluência de redes de significação, em cujo centro está o jovem leitor. 


A ideografia das figuras sedimenta a palavra. Instaura-se o jogo tão necessário ao exercício do olhar/sentir. Imagem e palavra compõem o que há de mais agradável aos olhos e aos ouvidos. É recriação e, ao mesmo tempo, fruição. Tudo isso num piscar de olhos na tela. É ativar os sentidos e se deliciar com o doce sabor das palavras e o maravilhamento das descobertas. 


Viva, Pixé, em todas as degustações e sentidos. Povoa o mundo leitor tão necessitado de consumir a arte como elemento de transformação. Quem resistirá?! 

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