Olga Maria Castrillon-Mendes
É pesquisadora da literatura brasileira. Autora de Taunay viajante: construção imagética de Mato Grosso (Cuiabá: EdUFMT; Cáceres: EdUNEMAT, 2013; Discurso de constituição da fronteira de Mato Grosso (www.unemat.br/editora/publicações, 2017); Matogrossismo: questionamentos em percursos identitários (Cuiabá: Carlini & Caniato, 2020) e Letras cacerenses (Cuiabá: Carlini & Caniato, 2021- em coautoria). É Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres/IHGC e da Academia Mato-Grossense de Letras/AML.
Vida, arte, Poesia na produção literária brasileira
Uma Revista Literária dedicada ao escritor Natalino Ferreira Mendes (1924-2011) é mais que um presente para Cáceres-MT e contribuição para a história literária. É o (re)conhecimento de uma produção eivada de ideias e crenças, de estilo e estética, mesmo quando escreve a história e a memória a partir do acervo documental. Com o poeta, Pixé tem o propósito de unir pontas: da reflexão sobre a postura intelectual de quem atravessou um século (do XX para o XXI), e da temporalidade no momento da criação, compondo o elo de ligação com o interior do Estado. Produzindo em conturbados períodos, tanto quanto os de hoje, que transformaram os sistemas políticos e as relações humanas, Natalino se coloca na travessia de um tempo de progresso tecnológico com marcantes prodígios da humanidade e a união atemporal entre o humanismo e a modernidade sobre a qual uma obra se imortaliza.
Os escritos, mesmo aqueles centrados nos aspectos telúricos, são reflexões sobre a vida, dada como presente em forma de Arte e Poesia. Os três pilares da sua produção – Vida, Arte, Poesia – motivam o leitor ao adentramento, este exercício para o qual se leva uma vida inteira em buscas, muitas vezes sem muito sucesso. Para o poeta, a vida é resultado do divino ato criador que coloca o homem e a mulher como partes do Cosmo. Nela (a vida), está a potência humana de também poder criar. Então o Ser é uma espécie de DEUS, ou parte dele, com poderes de fazer Arte e Poesia. Está, portanto, na gênese e no interior da palavra.
O que sustenta esses princípios? O profundo sentimento de fé, de esperança na humanidade e de caridade entre os seres. Natalino Ferreira Mendes é um homem moldado pela Virtù como princípio formador da paideia, ou seja, a busca platônica da excelência humana, ideal moral, resultado da relação entre natureza e educação como ideal formativo do caráter e das atitudes. De origem humilde, esteve em contato com a terra desde a mais tenra idade. Na relação entre o exercício vivencial e as pesquisas, construiu o gosto pela Arte. Seus escritos exalam os segredos da alma e o devir através da abstração (ou definição?) dos sentidos da existência humana. O hálito da terra e do povo e a sensibilidade da música, da visão do universo e da fraternidade entre as pessoas constituem imagens cuidadosamente lapidadas pelos resíduos do tempo, atingindo os domínios específicos das manifestações verbais. Ezra Pound simplifica essa ideia ao dizer que é o procedimento da “dança do intelecto entre as palavras” que despertam a memória. O canto configura a imagem, mas é também o discurso da/sobre nossa origem, os modos pelos quais passamos a significar em meio a outras vozes que nos constituem e nos definem.