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Odair de Morais 
É cuiabano, nascido em 1982. Formado em Letras e em Jornalismo pela UFMT, publicou até o presente momento Contos Comprimidos (Multifoco, 2016) e o volume de haicais Instante Pictórico (Carlini & Caniato, 2017). É poeta e escritor.

o despertar dos sinos agônicos convocando a classe trabalhadora 
a poesia vem vindo sem censura 
um roteiro 
um curativo 
um lenitivo acinturado 
costuro minhas elucubrações com pressa e barbante 
e sonho anil 
eu quero vestir a canção pega de improviso 
porque mais fluída 
e harmônica 
e feminina
porque carrega no bojo a partitura do nome de minha avó
porque congrega um arrepio que desconcerta a paisagem 
e trinca o espelho da conversa 
eu quero amanhecer sem adversários dessa vez 
 
minha intenção perdura acesa madrugada adentro 
eriça a alma quando mexe com os demônios alheios 
não divido com ninguém minha ignorância 
sigo tratando-a a pão de ló
ela é gorda e trepa com o chuveiro durante o expediente 
arroubos de leviandade fertilizam suas taras semanais 
passeio minhas roupas de domingo 
dependuradas na paisagem da tarde langorosa 
elas descansam e se renovam 
escorre langor 
o mel do humor no lençol 
é só com você que tenho esse frisson 
uma tara titânica que muito me apraz 
congregamos juntos 
em desjejum 
calor e orações
sobre o tédio do asfalto sem sorriso repentino 
evita que me precipite
o luar em pânico tinge o reflexo de um pássaro de bronze 
e coloca uma chuva irreversível remasterizada 
no horizonte 
 
a noite inteira jorrando poemas 
a pele do poema transparecendo auroras
transpirando amores 
as farpas do poema faço questão de evitar 
a escrita automática deixa um borrão na página 
não se assuste 
os caminhos trôpegos de casa eu reconstituí com tinta boêmia 
pantomima e bastante álcool
preocupado com o percurso do pássaro 
com o balé de sua coreografia no ar 
rumino em silêncio – áspero pergaminho 
peço permissão 
as esquinas do lirismo desembocam em luar
estado eterno de vigília 
e o grave da minha voz adulterada em voo 
por outro ângulo revisito emoções 
por via das dúvidas guardo os prints das conversas que tivemos 
um dia posso querer recordar slipknot 
agora temos o cerne maculado pela imagem vespertina 
e papéis de bala ao anoitecer 
arde em minha lembrança uma boca de crepúsculo incendiada 

© 2019 - Revista Literária Pixé.

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