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Olga Maria Castrillon-Mendes 

É professora e pesquisadora da literatura brasileira. Autora de Taunay viajante: construção imagética de Mato Grosso (Cuiabá: EdUFMT; Cáceres: EdUNEMAT, 2013); Discurso de constituição da fronteira de Mato Grosso www.unemat.br/editora, 2017 e Matogrossismo: questionamentos em percursos identitários (Carlini & Caniato, 2020).

NOVOS/VELHOS ENFRENTAMENTOS

Em tempos de crises, o alimento para o que temos de mais humano sobreleva a matéria e a forma escolhida para dizer. Não o que dizer, mas como dizer. Esse movimento, tão fecundo quanto conflituoso, está posto no campo literário da produção contemporânea, principalmente, se observada pelas assimetrias. Pelas diferenças, o mapa cultural se transforma e se completa. É preciso, portanto, ver sem paixões, o que ficou apagado pelo processo de constituição histórica e cultural. O maniqueísmo social, potencializado pelas redes sociais, tem polarizado o diálogo, dificultando pontos de vista alternativos e, paradoxalmente, calando vozes. 
A efervescência literária, como a que vivenciamos em Mato Grosso, através do coletivo escritores/editores, está a criar um possível e salutar mundo leitor, pelo menos se colocado frente à diversidade de plataformas disponíveis. Perguntar nesse contexto, se informamos literatura ou formamos leitores, ou, ainda, se há métodos para se ensinar leitura, movimenta revisão dos conhecidos paradigmas de ensino de literatura e das exaustivas questões sobre métodos e técnicas de formação do leitor comum, aquele consumidor direto da produção cultural. 
Focados nessa relação, os mediadores suam frio quando o assunto é o texto literário. A literatura é exercício de liberdade, momento em que o leitor se transforma, na mesma linha de apropriação, em produtor, também ele voltado à recriação, com maior ou menor grau de identificação fabulação/mundo particular. Certamente, não é um processo novo, mas tem sido reacomodado diante do fortalecimento das dicotomias e da necessária revisão de modelos tradicionais.   
O que seria, então, rever os velhos paradigmas e as novas abordagens temáticas? Será preciso abandonar a forma que aprendemos a ler? Exageros à parte, mas sistemáticas atitudes revisionistas são colocadas diante da própria prática. O que se tem internalizado passa por maturação em variados lugares teóricos e metodológicos. Entre o ritmo acelerado do que é fabricado/vendido/comprado (e pensado) e a opulência das novidades, muito é descartado para dar lugar ao novo. As tecnologias trouxeram rápidas mudanças nas relações de produção e de consumo. As ideias se polarizam e, talvez, tenhamos que atentar para a antiga metáfora da prática de jogar a criança fora com a água do banho. No propósito de nos livrarmos de algo secundário ou considerado ultrapassado, perdemos o essencial.  

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