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Neuza Benedita da Silva Zattar

É professora aposentada e atua no Programa de Pós-Graduação em Linguística/PPGEL/UNEMAT/Cáceres. Escreve textos na perspectiva da Semântica da Enunciação e crônicas biográficas. Obras publicadas: Do IESC à UNEMAT: uma história plural: 1978 (2008); Os sentidos de liberdade do escravo na constituição do sujeito da enunciação (2012); Do sítio povoado à margem do Paraguai à cidade de Cáceres: 237 anos (2015). Organizou a reedição do livro Um trecho do Oeste brasileiro, de Gabriel Pinto de Arruda (2021). É Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres/IHGC.

NATALINO FERREIRA MENDES: MEMORALISTA E POETA

Há escritores que são dotados da arte de escrever memórias e poesias, como é o caso de Natalino Ferreira Mendes, o mais conhecido escritor de memórias do município de Cáceres e um dos maiores de Mato Grosso, cujos escritos projetam os feitos de pessoas ilustres da história nacional, estadual e municipal, e de pessoas comuns, homens, mulheres e crianças, que interpretam cenas da vida cotidiana ambientadas na cidade de Cáceres. Como poeta, o seu eu lírico transversaliza temas monumentais e os animais, especialmente, os pássaros, e tal como estes, livre, voam alado, construindo versos inspirados na voz de seu coração e no amor pela sua terra natal.
Para o objetivo que propomos, extraímos dois recortes, um do texto ‘A fixação do homem na terra’, publicado na obra Fragmentos da história cultural de Cáceres e outros fios da memória (2021) e outro da poesia ‘Pássaro Vim-Vim’, divulgado em Pássaro Vim-vim (2010). 

ANÁLISE DOS RECORTES

Recorte 1 (R1).

O homem que aqui se fixou revelou desde cedo, as suas tendências modeladas pelas energias do meio físico a que se adaptou. Tornou-se ele o trabalhador rural, o agregado, o vaqueiro, o canoeiro, o boiadeiro, o tropeiro, o peão, o carreiro, o pescador, e continuando, o seringueiro, o caçador de animais silvestres e, sobretudo, o poaieiro, que sustentou rendoso comércio por muitos anos em nosso município. (MENDES, 2021, p. 63).

Uma das preocupações do memorialista Natalino Ferreira Mendes são os temas históricos e sociais que têm como protagonistas a cidade de Cáceres e o homem em suas múltiplas faces, a partir de sua fundação. O recorte em questão trata-se de uma história memorialista que evoca o memorável das profissões dos primeiros trabalhadores rurais, e que retorna no presente do acontecimento do texto (R1), projetando novas interpretações. O conjunto de designações profissionais resgata e faz significar o homem no seu cotidiano para se autossustentar e contribuir para a sobrevivência de outros.
Por essa narrativa, o memorialista reconstrói algo que ficou no passado e visa a traduzir a emoção que o fato lhe provocou, conferindo ao seu texto sua veia primordialmente ficcional. (SILVA, 2016).


Recorte 2 (R2)
Ele chega de improviso
Assobiando sôfrego 
– “vim...vim...” 
Repetidamente.
[...]
Mas o pio do “vim...vim...”  não variou
É sempre o mesmo
não importa que a modernidade
lhe tirou o encanto
das mensagens cifradas
que trazia aos lares crentes
de antigamente
Insiste...  anunciando
    – no seu pio – 
que algo novo virá 
nas asas da esperança[...]

O poema ‘Pássaro Vim-Vim’, um dos mais declamados e citados em trabalhos acadêmicos, foi criado como o mensageiro das boas notícias que assobia a cada pio vim...vim... Este pássaro toca a alma do autor que o descreve como o vim-vim que voa livre entre os lares, identificado pelo inesquecível assobio.
Observando os lugares de criação de Natalino Ferreira Mendes, é possível dizer que na produção memorialista, as memórias são reconstruídas e tecidas pelo autor, e na poesia, a voz poética do criador voa e transcende a natureza física das coisas que são de todos, e ambas revelam uma formação social que se movimenta no centro das transformações culturais e científicas vivenciadas pela sociedade de cada época.

REFERÊNCIAS 
MENDES, Natalino Ferreira. Pássaro Vim-vim: poesia da terra. Cáceres/MT: EdUNEMAT, 2010.
MENDES, Natalino Ferreira. Fragmentos da história cultural de Cáceres e outros fios da memória. Olga M. C. M. (Org.). Cuiabá: Carlini & Caniato Editorial, 2021. 
SILVA, Sheila dos Santos. Memorialismo: ficção, história, literatura revisão teórico-crítica. Revista (Entre Parênteses). Conexão de Saberes. Letras, UFA, v. 2, n. 5, 2016.
 

© 2019 - Revista Literária Pixé.

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