

Natasha Felix (1996-)
É poeta e performer, nascida em Santos (SP). Use o alicate agora (Ed. Macondo 2018) é seu livro de estreia. Participou de diversas antologias, com destaque para As 29 poetas hoje (Ed. Companhia das Letras, 2021) e Nossos poemas conjuram e gritam (Ed. Quelônio, 2019). Atualmente, trabalha como assistente curatorial no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
POUSADA VILA MOINHO
Manhã de tédio. Decidimos brincar de outra coisa
que não fosse um de nós dois suspenso no meio do
quarto 82 girando pingando suor no carpete
as mãos amarradas às costas em um nó Prusik.
Dessa vez, j. abriu a maleta e separou pó de arroz
tinta as perucas e me estendeu na palma da mão meu nariz
vermelho e inchado – deixou sob minha custódia a
solução da charada. Comigo, o isqueiro. Com j.
a chave na ignição. Nos olhamos a ponto de cometer
um crime. Foi quando boca salivou
um pouco que os olhos chamuscaram também.
Era meu o corpo elétrico dando pinote na estrada.
HOTEL VILA MOINHO
lá vem os dias piores.
garfo o cabelo.
garantia de que haverá fogo.
mantenho rigor no desejo de viver.
POUSADA IMPERADOR
Depois, j. fez um gesto com a mão como se espantasse
moscas do copo americano. Era Santa Bárbara do Leste
era cheiro de diesel no ar. j. deixa que a guimba
queime enquanto um arco de sol invade a cara dele, o tampo do
mini freezer, o cardápio logo em cima. As toalhas brancas ainda
dentro do plástico. O lençol de procedência duvidosa. O sol invade
as cordas, minha coleira, o cinto de couro. A palavra de segurança
descansando dentro do cofre.
Não restou
pedra sobre pedra.
Até a placa não perturbe largada no chão do quarto o sol se deixa invadir também.