

Mirian de Carvalho
É Doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde lecionou Estética nos Programas de Graduação e Pós-Graduação. Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA); da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA); da União Brasileira de Escritores (UBE) - RJ e SP, e do PEN Club. Participou da Comissão Cultural do Instituto Brasil-Estados Unidos (IBEU), de 2002 a 2010. Foi 2ª vice-presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), de 2002 a 2005. Nos dias atuais, dedica-se à poesia, à dramaturgia, à crônica e à pesquisa no campo da cultura brasileira. Publicou vários livros e, mais recentemente, ensaios intitulados A carnavalização na arte poética de Oleg Almeida. São Paulo: Livraria da Física, 2021 e, na poesia, A cama virtual. Rio de Janeiro: Synergia, 2021.
VISITANDO JOHN DONNE II
Minha ilha contorna insana ternura
do abraço, que na cama termina e se reinicia,
à hora da volúpia em triunfo.
Carpe diem! Carpe diem!
Hoje, o amor ressuscita
pelas naves do corpo sorvendo
o que em nós, a escorrer, nos anima:
o que, dentro e fora das vísceras, exulta.
Carpe diem! Carpe diem!
Hoje, esgota-se o amor.
Hoje, o amor ressuscita.
A inverter direções das pernas.
A inverter direções do ventre.
Carpe diem! Carpe diem!
A inverter direções do mundo,
freme de êxtase o tempo breve.
Assinando tua amorosa presença.
Confirmando tua assinatura.
Assim, no brevextenso momento do gozo,
por que esperar o que de etéreo na alma se esconde?
Por que deixar perder-se do corpo
o impulso e a fome?
VISITANDO JOHN DONNE IV
Da rigidez ao repouso, teu sexo
engravida de insânia minhas fendas.
E, úmidos de febre, meus lábios
se tornam seios aleitando terras
do teu feudo.
À liberdade dos amantes,
o amor despoja-se de tudo
igualando e unindo o diverso,
quando tua carne máscula
se levanta e vibra.
Da intimidade emerge a vida
no meu incontido grito de fêmea.
E à sedução da carne escorre mais vida
igual à seiva na racha do lenho.
À ousadia das mãos, a virilha irmana
oração e pouso, nesse profano caminho
dos lábios iniciando a cópula.
Fruto sugado, ressurge o amor
desaguando em corredeira.