Meire Pedroso da Silva
É cuiabana, professora, poeta, atriz. Reside em São José dos Campos/SP, onde atua no grupo de teatro Tropa do Vale. Em Cuiabá participou do Grupo de Teatro Gambiarra. No momento está na expectativa de publicação do primeiro livro de poesia com o título de Tempos Tchapequara. Participa de intervenções poéticas em saraus reais e virtuais.
SAUDAÇÃO AOS QUILOMBOS
Os tambores da senzala
Tocam forte seu penar
Quando tocam para lua
Dos quilombos quer lembrar
Na lavoura, noite dia.
No engenho, no café.
Chora o negro sua agonia
Da opressão do coroné.
África, Berço da humanidade!
Quantos de teus filhos deixaram seu chão.
Quantos de teus braços moídos em sangue.
Quantos de teus sonhos virados em prisão.
África, enterrada em tumbeiros!
Quantos de teus corpos jogados no mar.
Quanto de tua terra em navios negreiros.
Quanto de teu povo perdido no olhar.
A ti Palmares, meu grito.
Entoo num canto de dor
Sonho com a liberdade
Dos grilhões do meu sinhô
Sou herdeira de Zumbi
Canto e conto nossa história
E quem passa por aqui
Guarda tudo na memória
África, berço dos ancestrais!
Quanto do teu leite foi derramado
Quanto de memória ficou pra trás.
Quanto de ciência virou legado.
África, multiface Cultural!
Quanto de teus filhos com o corpo a gingar.
Quantos de teus passos marcados no solo
Quantos de tambor podemos tocar.
Quilombola ê quilombola á
Quilombola ê quilombola á
E o corpo se fez pão.
O pão estuprado. O corpo arrastado. A carne mais barata do mercado.
E o sangue se fez vinho.
O vinho que corre do corte da chibata. O sangue retido no buraco da bala.
Até quando?
Até quantos andersons, joãos, joaquins, antonios, franciscos, pedros?
Até quantas Marias marieles, arieles, severinas, evas, luandas, dandaras?
Até quantas?
Até quando?