top of page
foto-pb-matheus-gumecc81nin-barreto.jpg

Matheus Guménin Barreto 

(1992) é poeta e tradutor mato-grossense. Doutorando da Universidade de São Paulo (USP) na área de Língua e Literatura Alemãs - subárea tradução, estudou também na Universidade de Heidelberg. Publicou traduções de Bertolt Brecht e Ingeborg Bachmann. Encontram-se poemas seus no Brasil e em Portugal, e integrou o Printemps Littéraire Brésilien 2018 na França e na Bélgica a convite da Universidade Sorbonne. É autor dos livros de poemas A máquina de carregar nadas (7Letras, 2017) e Poemas em torno do chão & Primeiros poemas (Carlini & Caniato, 2018 – coleção Olho d’água).

Aquilo que me sou não me é nunca. 
Pensando o que serei no escasso espaço 
de mim, não sei se penso e sou aquilo 
ou se, pensando, passa o tempo e passo 

– se passo e já não sou o que pensara, 
nem o que penso agora e que já passa. 
Não sei se algum momento embosco aquele
que vejo ou se descubro-me sua caça.

 

corpo: que coisa será essa
a que servirá ou a quem, computará quem
os beijos que deu e dará e quem os tons
de carmim que já viu aos domingos e quem
os cachorros que lhe lamberam os dedos e quando
e quem computará as madrugadas e o branco que fazem 
e quem
os sons que gestou na garganta e não disse e quem
o amor miúdo e bom que reina entre as paredes de um apartamento e quem
dirá a esse corpo que tudo
cedo ou tarde
não vai ter existido
na garganta faminta do tempo?

 


Como escrever um poema
enquanto a fome carcome um corpo a-
inda que um só corpo ainda que como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como escrever um poema como

bottom of page