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Marta Cocco 
É natural de Pinhal Grande-RS, formada em Letras, doutora em Letras e Linguística, professora de Literaturas da Língua Portuguesa na graduação e na pós-graduação da UNEMAT-MT. Faz parte do grupo de pesquisa LER: Leitura, literatura e ensino – UNEMAT/CNPq. Ganhadora de vários prêmios literários, já publicou cinco livros de poemas (Divisas, Partido, Meios, Sete Dias e Sábado ou Cantos para um dia só), dois de crítica literária (Regionalismo e identidades: o ensino da literatura produzida em Mato Grosso, Mitocrítica e poesia), um de contos (Não presta pra nada) e, com este, três infantis (Lé e o elefante de lata, Doce de formiga e SaBichões).

DE ONDE VOCÊ ESTÁ FALANDO?

Toda vez que Lúcia me telefona, eu tremo na base. Sempre é fofoca, reclamação, notícia ruim. Não deu outra. Foi por ela que eu soube em primeira mão. Ligou do meio da rua. 


Dudu nos surpreendeu, amigos e familiares, de uma forma indescritível. Digo Dudu, porque sou uma das amigas. Mas para o público em geral ele é o famoso escritor Luiz Eduardo Pires. Traduzido para cinco idiomas, vencedor de um jabuti, figurou por dois anos na lista dos mais vendidos com a novela policial “Puto da vida”. Ultimamente estava em baixa. Mas de uma hora para outra virou manchete, capa, sucesso. Lido como nunca. 


No noticiário não se fala em outra coisa.  Eu assisto a tudo com muita tristeza. Quando a polícia entrou no apartamento, o aparelho de som estava ligado num volume altíssimo, tocando uma ópera que esclareceram depois ser de Henry Purcell, cujo nome esqueci, só lembro do nome da ária que a compõe, porque falaram na televisão: “When I am laid in earth”. Inacreditável. Se jogou da sacada. Deixou um derradeiro bilhete (uns já estão dizendo que é miniconto, porque tem título) na mesa de jantar, sobre um monte de envelopes fechados remetidos por bancos e uma empresa de agiotagem. Nenhuma correspondência familiar, nada.

 

O LEGÍTIMO SOBRE

Quem contestará? Eis meu testamento: um conto para uma revista literária numa edição especial sobre machismo. Vetado. Sou homem. Um poema sobre racismo num concurso nacional “a negritude brasileira”. Desclassificado. Sou branco. Um relato ficcional para um programa de TV acerca da homofobia. Desconsiderado. Sou heterossexual, casado. Por fim, um poema anticapitalista para uma antologia internacional. Rejeitado. Não é seu lugar de fala, alegaram. Quem me cobrará doravante? Lançarei a obra, salvo melhor juízo, prima. Pisoteiem à vontade. 

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