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Marli Walker
Doutora em Literatura e Práticas Sociais - UnB
FUNERAL
quando menina (quase adolescendo)
designaram-me a tarefa de matar
a galinha escolhida deveria ser morta,
escaldada, depenada e destroçada
(crescer no interior exige
disposição para certos rituais)
ao final, restos mortais na travessa
aguardando os devidos temperos
e o apetite do pequeno bando
(cada membro da família
guardava predileção por
um membro da galinha)
eu, sozinha a um canto da mesa,
engolia em seco o gosto do espanto
o olhar aflito da ave
o bico semiaberto
um leve fremir de asas
(um assassinato premeditado requer
alguma frieza que eu ainda não tinha)
ontem, sobre a mesa da cozinha,
estrangulei um amor
(há sempre algum espanto
na execução de certas tarefas)
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