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Marília Beatriz de Figueiredo Leite

É professora fundadora da UFMT, adjunta nível IV; mestre em Comunicação e Semiótica, pela PUC-SP. Ocupa a cadeira nº 2 da Academia Mato-grossense de Letras. Publicou O mágico e o olho que vê (Edufmt, 1982) e De(Sign)Ação: arquigrafia do prazer (Annablume, 1993) e Viver de Véspera (Carlini e Caniato, 2018).

OSCAR ARARIPE: IMAGEM E SILÊNCIO

Quando conheci Oscar Araripe que entrou devagarinho em meu espaço familiar nos idos de 70 na efervescente IPANEMA meu pai GERVÀSIO LEITE de pronto vaticinou: “Aí está um cidadão que ama a LIBERDADE! ” 


Seu modo de olhar a vida com força, alegria, irreverência e ternura mostravam a têmpera que é a vida do ar – ART(V)ISTA ; pois ele respira amor à arte e trabalha como apontou Merleau-Ponty: ”a visão é o encontro, como numa encruzilhada, de todos os aspectos do ser” . Assim é a liberdade da pintura de Oscar Araripe que quando inicia seus passos traça figuras com OLHAR desvão, isto é, traz na imagem distorções que seu olhar apreende como corpo do ponto de vista do pintor.


Eis agora um outro olhar com campos de belezas amoráveis. Amoráveis, pois, como ele mesmo enfatizou em entrevista concedida a EDER FONSECA “o tema dos jarros de flores, como eu o concebo, é o mais libertário, pois é somente forma e cor.” Amor é isso a entrega sem recados colorindo e dando forma.


Entendo que a arte, a pintura de Oscar Araripe toma da realidade o ver, tocando, sentindo e entendendo o universo floral. A profusão dos coloridos, as diversidades desse mundo da florada estabelece um jeito de apreender diverso e é o pintor quem destaca:  Pintura é imagem, e imagem é silêncio, daí uma pintura que seja forma e cor ser mais pintura, pois é mais silenciosa. ”  


É isto que me faz admirar no íntimo o silêncio da obra pois ela é o homem que cria submetido apenas à visão interna pois Oscar Araripe é o homem-arte irredutível. Arte é o que fala mais alto é a arte que salva o social. Penso que olhar as flores de hoje não é mais o material que vê, mas sim o olhar do SER Oscar.


A elaboração de seu material desde sempre mostra inovação pinta em vela náutica oceânica de poliéster. Aqui está o que em certo sentido incomodou críticos: a possibilidade de ser inovador plantando tema com coragem e destemor. Remou contra a corrente e conseguiu vencer pois sua proposta redimensiona o Natural.


Eis o valor das telas de Araripe, ela se institui no terreno fértil da beleza das flores, onde se encontra a sólida força, resistindo a mudança histórica, pois assim plantada, instituída, a obra resiste às diferenças. É então que a flor renascendo nas telas pintadas advém na dinâmica de sua movimentação e indica a força da natureza. Dentro das fronteiras da obra a natureza rompe as proibições e quaisquer limites. A obra se agiganta ao olhar o mundo das flores: é se deixar olhar tal universo e do mesmo modo ser olhado por ele. Possível dizer que esses olhares, movimentam a gênese de ser e estar no mundo.


E para comemorar a vinda de OSCAR ARARIPE para figurar na PIXÉ como um dos grandes artistas que caminham embelezando e resistindo nosso país dedico meu texto poético que irá figurar em livro que estou construindo: “Silêncio Profundo”
                        “ Alguns silêncios 
                        Balançam as folhas
                        Envolvem as plantas
                        E comemoram as flores”

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