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Marcos Almeida Pfeifer
É jornalista, 39 anos, que quando canta, toca violão e está entre amigos gosta de ser chamado de Caco. Meu coração pulsa com a música e a poesia brasileira de Tom Jobim, Milton Nascimento, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Roque Ferreira, Clementina de Jesus. Tenho 17 anos de rádio em emissoras de Porto Alegre, como a Rádio da Universidade onde atuei como produtor, apresentador e repórter até 2015. Há 5 anos conto histórias e apresento música gaúcha, popular brasileira e sul-americana no programa Falando da Terra na radiosul.net - Sou graduado em jornalismo pela UFRGS (2009) e trabalho também como revisor. Já fui professor voluntário de Geografia em Pré-Vestibular Popular de Porto Alegre. Acredito na arte e na música como transformadoras do ser humano.

À PROCURA

Desde que viemos a este mundo, estamos à procura. E quando encontramos parece que chegamos na transição para uma nova fase, uma nova idade que nos levará novamente à procura. Do ponto de vista do sentir humano, nos identificamos em cada fala, em cada escrita. Estar entre vocês nessa revista, me traz algo da baianidade querida de Gilberto Gil e Dorival Caymmi, encontrar pessoas que gostam de falar sobre cultura, parecendo fazer música. Aos leitores, parceiros desse encontro ou dessa procura, que são fazedores de luz e persistentes do amor.


Falando agora do ponto de vista coletivo, estamos num país que está desesperadamente à procura. De tal modo que se mexe nos instintos mais vitais das pessoas, no medo, trazendo à tona individualismos e preconceitos que pareciam em parte, superados. Porém a história nos trouxe uma sombra forte, áspera e ardilosa, de modo que temos de estar à procura de nosso âmago, para encontrá-lo e fortalecer de amor os nossos caminhos. À procura, sim, à procura. À procura de algo diferente, vim parar aqui na Pixé. À procura de me encorajar mais e sair por esse Brasil que tanto quero conhecer em suas regiões e suas particularidades que nos fazem mais humanos e íntegros pelo encontro e unicidade da diferença. À procura de saber quem são as escritoras e escritores, as pessoas que estão escrevendo e fazendo arte do nosso presente, desse momento. Os traços, textos e poemas que vi por aqui, na Pixé, aguçaram ainda mais meu olhar para o real e triste país com o qual nos encontramos todos os dias, e fingimos não ver, talvez para manter um pingo de esperança. À procura sim. À procura do menino negro que dorme na rua, não deve ter 11 anos, para quem a palavra amor, uma história, uma canção bonita e uma mesa com um lanche delicioso fazem parte de um mundo distante, desconhecido. À procura das crianças que estão pedindo dinheiro, moedas, esmolas, à procura de quê? À procura daquele homem, daquela mulher que dormem na rua e correm o risco real da violência, expostos à indiferença e à estatística, de não serem, e de serem um número. 


À procura de quem roubou a esperança e a vida do povo, utilizando da velha cantilena, de novo. À procura da mulher, que violentada e desrespeitada por uma sociedade mofada, representação anencéfala de um patriarcado covarde, emerge com sua força inesgotável nutrida pelo amor. À procura de um tempo de ternura onde cada homem possa reconhecer que contém em si uma alma feminina, e possa sim, acolhê-la e estar preparado para a aventura desafiadora e linda do amor. À procura do indígena sábio, que em meio ao avanço do ignaro cara pálida e seu neocolonialismo, está pronto para ajudar o Brasil a entrar definitivamente na era do século XXI. Ticunas, Guajajaras, Terenas, Caigangues, Guaranis e Ianomâmis são mais avançados do que seus irmãos da “civilização moderna”. À procura da professora perplexa que vê no comando da nação um grupo infantil e primitivo, cuja psique distorce dos compromissos sociais de pessoas adultas, de cuidar da vida, da terra, do outro, a serviço de um coletivo melhor. À procura do não saber o que dizer em meio à tanta indiferença, individualismo e insensatez. À procura de estar junto com todxs que sofrem discriminação e violência, e daqueles que já sonharam paz em outros tempos e ultimamente acomodaram-se ao jugo simplório e atroz de um projeto de estado autoritário. Convido à  procurarmos o Brasil da mãe preta do cerrado, do reconvexo contra o preconceito, num cântico de todos as origens, continentes e seres, em que São Jorge-Ogum auxilia na cruzada até Caymmi onde todo o caminho dará no mar. Praia onde o amor e a inclusão celebram os passos de todas as pessoas na areia do trópico, onde o vento no coqueiro de Itapoã é a canção mais linda e doce a ofertar à lua cheia, dourada Oxum, para lembrar que a poesia e o afeto são os elementos mais caros e genuínos do nosso povo. À procura de ofertar esse encontro, do perseverante Tempo Rei de Gilberto Gil onde tudo transformando-se, saciando a sede de canção na cabocla fonte de Bethânia, passando na avenida da generosidade de Caetano onde os novos poderão curtir numa boa para quem sabe, nessa edição de março da Pixé, as águas fecharem o verão com promessa de Tom e vida em nosso coração.

© 2019 - Revista Literária Pixé.

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