

Márcio Batista
É poeta, produtor cultural e professor de Educação Física. É Autor de Meninos do Brasil. Um dos principais poetas da Cooperifa, também poemas publicados nas antologias O rastilho da pólvora e no CD Sarau da Cooperifa. É produtor cultural, um dos articuladores de atividades da Cooperifa, exerce as funções de professor de diretor de escola, em quais fomenta cultura e atividades físicas aos estudantes, professores e demais funcionários.
NEGRO ATIVO
Quem me nega trabalho, negô
Não terá outra chance de negar
Negro é homem trabalhador
Todos sabem, ninguém pode negar.
Quem me nega salário, negô
Não terá outra chance de negar
Meu suor tem valor, meu senhor
Senhor ainda se nega a pagar.
Quem me nega oração, negô
Não terá outra chance de negar
Negro reza pra teus orixás,
Pra Ogum, pra Xangô e Oxalá.
Quem me nega a paz, negô
Não terá outra chance de negar
Nego-ativo livro o mundo sim senhor
Zumbizando pro mundo se libertar.
Quem nega a luta, negô
Não terá outra chance de negar
Capoeira é atitude do negro
Atitude é a força pra lutar.
Quem me nega a raça, negô
Não terá outra chance de negar
Preto é cor, negro é raça
Sou negro e com raça não vou sonegar.
Quem me nega justiça, negô
Não terá outra chance de negar
Justiça se faz com amor
Negraz, a humanidade é incapaz ao julgar.
Quem me nega amor, negô
Não terá outra chance de negar
Nega ama teu nego em nagô
Negritude pro mundo amar.
Me negaram de tudo
Nesta terra de negro sem lar
Sei que não me negas, senhor,
Sou teu filho, ninguém pode negar
MENINOS DO BRASIL
Brasil,
olha teus meninos às margens do Rio de Janeiro
crianças sem esperança em Salvador
sem dor pedras de Recife corroem por inteiro
pés de moleques em Porto Velho
em Boa Vista pupilos de olhos vermelhos
Rio Branco no espelho devora meninas
rezam pais de João Pessoa
choram mães de Teresina
ninguém socorre filhos de Belém
em Natal não tem paz
sem fé São Luís não aguenta mais
plantação medonha em Belo Horizonte
a erva enfadonha aflora Florianópolis
o crack domina em Campo Grande
guris de Porto Alegre tri-loucos de tristeza
papelotes de esmolas para pixotes de Fortaleza
sem escolas perdemos garotos de Vitória
pivetes de São Paulo compram, vendem
piás de Curitiba enrolam, acendem
curumins de Manaus na troca
de guaraná por Coca na Zona Franca
mirins de Goiânia seguem receita da branca
pó de Aracaju
farinha de Macapá
para massa de Maceió
pasta de Cuiabá
droga ofusca a balada de Brasília
em Palmas abala famílias