

Marcelo Labes
(1984) É natural de Blumenau e reside em Florianópolis-SC. É autor, dos romances Três porcos (Caiaponte, 2020) e Paraízo-Paraguay (Caiaponte, 2019) e dos poemas de Enclave (Patuá, 2018).
o homem morreu em meus braços
como quem descansa como quem
exausto dispensa água ajuda abraço
o homem morreu em meus braços
mas antes olhou as horas no relógio
de pulso; operário, sabia do valor
de um dia útil para si e para os seus
não morreu dormindo, porém, mas
desperto, entre o sábado e o domingo
(quando finalmente o esperado
descanso). voou antes que eu lhe
dissesse Voa, pai, que o céu é grande
e também a eternidade. voou como
pássaro que era, um canário da terra.
enquanto ainda respira é um homem
mesmo que não tenha visto os fogos
mesmo que não saiba que o ano terminou
para recomeçar outro, este em que estamos
enquanto ainda respira é um homem
é um pai é um avô é um ser humano
cheio de falhas e belezas como nós
todos enquanto ainda respiramos
enquanto ainda respira é um homem
mesmo que depois, mesmo que depois
enquanto ainda respira enquanto
ainda respira, mas e depois? por
enquanto respira entre ofegante
e tranquilo, mas e depois, e depois