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Manuella Bezerra de Melo 
É jornalista nascida em Pernambuco, Manuella Bezerra de Melo trabalhou como repórter, especializou-se em Literatura Brasileira e Interculturalidade e é mestre em Teoria da Literatura. Atua como poeta, cronista, autora e contadora de histórias infanto-juvenis. Quando viveu nas Serras de Córdoba, na Argentina, publicou sua primeira obra, Desanônima (Autografia, 2017). Já em Portugal, publicou Existem Sonhos na Rua Amarela (Multifoco, 2018) e Pés pequenos pra tanto corpo (Urutau, 2019) e participou da antologia Pedaladas Poéticas (Aquarela Brasileira, 2017). Mora em Guimarães, Portugal.

Recife onde toda verdade é mentira
que corre como pára
cidade em pânico como no viaduto
em cima do viaduto
em baixo do viaduto
Recife paralelo, uma espécie de delírio
um mau hábito, um vício louco
num sabor, nos sabores, tantos sabores
Recife de quem conhece maior
maior que sua Aurora
que o desmantelo azul do mar
que seu carnaval que é tão seu
quanto do seus vizinhos
Recife dos paraibanos e alagoanos
dos pernambucanos migrantes
dos que carregam nas costelas
a nostalgia que deixa à saliva
um solto da manga rosa
um ruído de ambulância
de olhos fechados
numa ladeira
cidade onde nenhum artista
é suficientemente bom
porque todos os artistas são
excessivamente os melhores
Recife uma puta sorridente
de cu pro alto, puta liberal
das babás fardadas
do cães cagantes nas calçadas
do medo, medo colorido
como um flamboyan vermelho
e seus jâmbricos tapetes violetas
Recife tão distante, à nado te afogas
a pé não se chega, de asas não se paga
Mata a quem te ama essa abstinência
do teu fedor à merda

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