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Manuel Bandeira

(1886-1968). É o escritor homenageado.

OS SAPOS

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- “Meu pai foi à guerra!”
- “Não foi!” - “Foi!” - “Não foi!”.

 

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - “Meu cancioneiro
É bem martelado.

 

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

 

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

 

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

 

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...”

 

Urra o sapo-boi:
- “Meu pai foi rei!”- “Foi!”
- “Não foi!” - “Foi!” - “Não foi!”.

 

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

 

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo”.

 

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- “Sei!” - “Não sabe!” - “Sabe!”.

 

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

 

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

 

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...

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