Lucinda Nogueira Persona
É escritora, Poeta, Bióloga (UFMT), Mestre (UFRJ), Professora aposentada (UFMT / UNIC). Ocupa a cadeira nº 4 da Academia Mato-grossense de Letras. Com sete livros publicados (poesia), obteve, em dois deles, premiação da UBE. Tem dois títulos publicados na literatura infantil. Integra antologias e revistas literárias. Colabora com a mídia impressa e digital escrevendo resenhas, contos e crônicas.
O DIA
Nascido em todos os rostos
o dia sobe até o ápice
Talvez até o calvário
por um peso que carrega
No seu ponto mais alto
no seu vértice incendiado
faz a curva e desce
(menos que vertiginoso)
E enquanto desce
é como imprimir no muro:
a tarde ainda não morreu
apenas pende para um lado
com a luz às costas
A brisa e o sopro de palavras
ganham distâncias indiscerníveis
Não há dia que não traga em si
o favor de uma tarde
um céu bom de se olhar
e a oscilação de uma folha
(afogada no ar).
(In: Revista Brasileira – Ano V, n. 87 Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2016).
RUÍDO SINGULAR
Caminho pelo parque
ao músico crepitar das folhas secas
(o verso é o encontro repentino
de um ruído singular?)
Com outros pés segue a tarde
compondo secretas pegadas
E vai também o vento
não bem andando (ele corre)
a rasgar-se nos entraves
Persistente, invisível
no seu estilo de vento mesmo
que passa e não volta
que passa e não volta
Convivo com tantos modelos!
LUA ACESA
Começa a noite
Já por aí
a lua acesa
a renascer
Veio com tudo
Veio pra valer
De peito aberto
Leitosa e plena
A roliça nudez boiando
rente ao topo do edifício fronteiro
Estar na cobertura é poder tocá-la
Tão macia aos dedos – carne de peito
Calma, calma
Cara de noiva
(grávida)
Vai arder na amamentação
Impossível não repetir – lua de leite
E não parece sem alma.