

Lorenzo Falcão
“Nasci inexplicavelmente para ser poeta”, reconhece Lorenzo Falcão na breve biografia que acompanha “mundo cerrado” (assim mesmo sem maiúsculas por opção do autor). “O cerrado é meu lar e a poesia, o meu mundão sem porteira”, conclui o jornalista, que nasceu em Niterói (RJ), mas cresceu em Mato Grosso, “entre barrancos, pedras e sombras”, e trabalha há muitos anos como jornalista na área de cultura.
DRAMA CONTEMPORÂNEO
peixinhos dentro do aquário
me olham nos olhos
e passarinhos na gaiola também.
sobrevivo a esses olhares
com uma certa dor
que não é de estimação
não há nada mais triste
do que o olhar
de um bife a cavalo:
grandes quadrúpedes sofrem pra caralho
e agora descobriram
que o estresse dos vegetais,
além de não impossível,
é audível
com quantos paus
se faz uma canoa
tá balançando demais
meu coração à toa
vejo que o coração humano
também pensa
e repensa esse drama
da vida contemporânea
além do sexo,
mais nada me resta
pra matar a fome
dizem que o sono alimenta,
então, vou traçar o pesadelo
como sobremesa