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Lívia Bertges

(1987, Juiz de Fora – MG) é doutoranda em Estudos Literários (UFMT) com estágio sanduíche na Sorbonne Université (Paris, França). É mestra em Estudos Literários (UFMT) e em Langues et Cultures Etrangères (Université Stendhal). Publicou artigos e poemas em revistas, antologias e sites. É editora da revista literária Ruído Manifesto.

TORCE I

Torce, abre o coração como os lábios. 
O sorriso é crescente como a madrugada. 
O abraço é um caloroso dia de seca no Cerrado. 
De perdas e ganhos gustativos soamos, recomeços –
regados a sons vibrantes e coágulos. 
Somos assim, nós, mulheres. 
Nós, com idade a cumprir, morada em ciclos, óvulos roxos craquelados, cicatrizes nascidas, curvas erráticas 
e pecado primeiro. 
Estamos frescas, nós, mulheres. 
Estamos frescas a engolir inteira a febre de quem cala. 
Estamos frescas a engolir o sangue das cavidades abertas. 
Estamos ávidas e frescas a engolir as maçãs, lustradas e oferecidas 
- e junto a elas, todas as frutas 
do farto mundo maduro.

TORCE II

Torce.
Abra o coração.
Alarga os lábios úmidos.
Compõe-se crescente fonte luminosa.
De instâncias posteriores e inferiores degustamos, nós mulheres.
Soamos recomeços.
Supomos assim, nós-mulheres.
Seremos assim
deidade a cumprir
de permanência em intervalos
de cicatrizes nascidas
de desvios erráticos 
e pecado primeiro.
Vibramos no engolir a febre de quem cala.
Sugamos no engolir as cavidades extirpadas.
Nós, mulheres, 
Estamos ávidas e frescas a engolir, 
Por inteiras,
As maças lustradas e confiadas –
E junto a elas, todas as frutas 
do farto mundo maduro.

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