Lívia Bertges
(1987, Juiz de Fora – MG) é doutoranda em Estudos Literários (UFMT) com estágio sanduíche na Sorbonne Université (Paris, França). É mestra em Estudos Literários (UFMT) e em Langues et Cultures Etrangères (Université Stendhal). Publicou artigos e poemas em revistas, antologias e sites. É editora da revista literária Ruído Manifesto.
VERBAL
Poderia ser uma ferida simples
um corte menos dolorido,
um rasgo em madeira de sustentação
ou uma válvula de suspensão que lembra,
a cada rompimento,
sua resistência.
Corte: avermelhado inchado
sem contato com ar – impercetível.
Insiste em calar o descontente,
Insiste em ser ferida arrombada,
afere com diligência o comando.
Poderia ser uma camada simples
um pouco menos dolorida,
um prego em madeira de sustentação
ou um desejo de suspensão que lembra,
a cada queda,
sua existência.
Na travessia alimentar do prazer,
o incomodo impera,
testemunha gengiva, dentes.
Poderia ser um corte simples
um golpe menos dolorido,
um parto como madeira de sustentação
ou uma rota em suspensão que lembra,
a cada secreção, sua essência.
E rege,
impele a mordaça,
acalma, reabre em delicados movimentos.
Da boca ao freio:
o imperativo da palavra é refeito.