

Leila Sampaio
Nasceu em 19 de Agosto de 1970, na cidade de Nova Esperança/PR. Reside em Colider, no estado de Mato Grosso, desde 1999. Professora de Língua Portuguesa e Inglesa. Graduada pela Universidade do Estado do Paraná (UEM). Mestra em Letras, na linha de pesquisa em Estudos Literários, pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Três romances escritos com duas publicações: “Perdoe por mim” e “Um espaço entre dois corações”.
MAIS UMA
Sentada na escada da cozinha, fumava seu cigarro. Um atrás do outro. Não era possível que acontecia de novo. Já era a quinta vez. A raiva tomava conta. Pensamentos acelerados trombavam-se na mente. Mais uma. Ele dormia no quarto. Chegara bêbado. O cheiro de álcool já dominava o ambiente fechado. O cheiro dela na roupa. Podia ir até lá e matá-lo. Mais uma. Só pensava no que fazer. Sabia. E faria. Não era a primeira vez que era traída. O primeiro marido a traiu. 21 anos. Foi ao chão. Perdeu os sentidos. Queria entender. Mas as desculpas e mentiras não se encontravam. Fez o que devia ter feito. A primeira. Foi embora. Ninguém nunca a achou. 24 anos. Segundo marido queria filhos, mas ela não podia. Engravidou a vizinha mais nova. Mais uma. Não ia vê-lo ser pai daquela criança. Aquela não. Foi embora de novo. Sumiu para longe. Não tinha família. Não tinha ninguém. Só o corpo para oferecer em troca de comida e carona. Era bonita. Vaidosa. Batom na boca. Cabelos pretos. 27 anos. Não queria mais morar com ninguém. A terceira traição doeu também. Não imaginava. O velho tinha 62 anos. Ela não era suficiente? Doeu ser trocada por outra. Mais uma. Foi embora. Foi para longe. Cortou e pintou o cabelo. Foi pro Sul. Caronas, comida e trocas. Conheceu o quarto marido. Relutou. Ele insistiu. Não queria viver tudo de novo. Não acreditava que aquele não fosse trair. Não queria mais uma. Mas ele era bom. Tinha um bom trabalho. Era carinhoso. Foram anos felizes. 32 anos. Mas, de repente tudo mudou. Não desconfiou de nada. Confessou amor a outra. Todos os horrores do passado voltaram. Não tinha jeito. Mais uma. Dessa vez foi para mais longe, cruzou a fronteira do Paraguai. Dias difíceis. Tentou não se prostituir. Não achou outra saída. De troca em troca, chegou à cidade onde conheceu o quinto marido. Também brasileiro. Foi amor à primeira vista. O conheceu na igreja. Resolveu entrar pelo canto que ouvia. Ele a recebeu na porta. Sentiu-se acolhida. Iniciaram uma história. Ela vinha de longe. Corria de marido que batia muito. Ele procurava mudar de vida. Ajudaram-se. 34 anos. Ele era bonito. Andava de calça e camisa. Cabelos grisalhos. Chamava atenção. Sentia ciúmes dele, mas confiava. Um dia, o primo chegou. Eram quase irmãos. Tanta alegria que comprou bebida para o primo. Caiu na tentação. Voltou a beber. Ficou fraco. Não ia mais à igreja. Foram atrás resgatar. Em vão. O primo foi embora. Levou a paz com ele. Trabalhava. À noite, bebia. Saía cheiroso. Voltava tarde. Ofensas. Choros. Brigas. Já sentia não caber ali. Mas para onde iria? Ficou. Gostava dele. Voltava cada dia mais tarde. Não queria sexo. Sentia-se rejeitada. Um dia, foi atrás. O viu beber com amigos. Saiu apressado. Parou na casa de uma conhecida. Lá ficou. Demorou. Ela foi pra casa. Ele chegou sem falar nada. Deitou. Dormiu. Mais uma. Teria que ir embora de novo. Pensou na vida. Nas vezes traídas. Nas coisas que fez. Tudo que viveu. Vivia com medo. Fugida. Para onde iria dessa vez? Não queria matar mais uma. As traições continuariam em sua vida. Decidiu não matar. Mas morrer. Cortou os pulsos enquanto o marido dormia na cama ao lado. A polícia chegou a pedido do marido. Nada mais a ser feito. Mais uma.