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Klaus Henrique Santos

Reside em Sinop-MT e é membro da Academia Sinopense de Ciências e Letras (ASCL), nela ocupando a Cadeira 10, cujo patrono é Jack Kerouac. Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo. Publicou Páginas da Escuridão (2012), Enfim, a estrada (2014), Horror & Realidade: contos (Carlini & Caniato Editorial, 2015), No Compasso da Loucura (Carlini & Caniato Editorial, 2017) e A poesia mora no bar (Carlini & Caniato Editorial, 2018).

A GARRAFA DE VINHO

Resolvi virar a garrafa de vinho no gargalo. Um redemoinho numa espiral fortíssima me sugou para dentro da garrafa. Tornei-me um fragmento de uva redemoinhando no doce embalo do líquido que era sugado por meus lábios. Minha pele se tornou roxo-uvada – tonalidade e palavra inéditas – e me embriaguei. Pilotei uma nave imaginária naquela ciranda que teimava em acelerar rumo ao fundo da garrafa e depois emergia com toda a força, impulsionada por Baco. Fui engolido por mim mesmo e deslizei alcoolicamente por minhas entranhas. O fígado estava severamente arruinado, mas o coração, teimoso, continuava a me bombear num ritmo nunca experimentado e eu ficava cada vez mais bêbado no meio disso tudo. Beijava meus dentes e me deleitava no macio da língua. O vômito me expulsou de mim mesmo e meu sangue voltou para a garrafa. Voltei a mim, literalmente embebido. A garrafa verde, os pedacinhos da rolha boiando no vinho, o rótulo empoeirado. Gritem e pulem de alegria ao doce sabor dessa bebida que embala os cânticos e que d’água os barris se encham! A poesia mora na adega.

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