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José Pedro Rodrigues Gonçalves
É médico, escritor e poeta que observa com rigor o que escreve, numa demonstração de responsabilidade pela qualidade quase poética daquilo que produz. Em Tragicomédicas, seu primeiro livro, resgatou as histórias de seu tempo de estudante de medicina no Rio de Janeiro e de parte de sua vida profissional em Cuiabá. Em Bauxi reconstruiu poeticamente a cultura rural do interior de Mato Grosso em meados do Século XX. Em sua terceira obra assume o lado cientista, em um livro de textos que trata do cuidado com a vida. Da Cura para o Cuidado apresenta uma nova forma de olhar a atenção à saúde, lançando luz sobre as vulnerabilidades humanas, locus originário do adoecer humano. Agora, em Lavapés, resgata um Bairro esquecido, um dos berços da cultura, das artes e do esporte em Cuiabá durante o Século XX, mostrando a origem real do seu nome, a fonte que, embora aterrada pelo asfalto, ainda permanece em silêncio, aguardando o seu ressurgimento naquela mesma esquina. 

LÍRICO ONÍRICO.

 

Risco, rabisco e cisco 
palavras amontadas 
em frases tão desconexas, 
complexas, sem fins, 
sem finalidades, 
de verdade só tem o nome 
e uma fome 
de poder significar, 
ficar no signo da vida, 
vida/morte no matar, 
por sorte, sair ileso no tráfego impublicável, 
miserável e inesgotável 
desse verbo navegar.
Destruo as frases fugazes 
e os cartazes 
que anunciam 
e prenunciam o desfecho 
do fechado mundo mudo, 
tão imundo e vagabundo, 
soturno e meditabundo 
e dele só vão saindo 
essas coisas tão inúteis, 
fúteis e tão perdidas 
que depois de consumidas 
sumiram, desapareceram 
das pratas das prateleiras, 
só ficaram as asneiras, 
ou asnos em dianteiras, 
dia todo e noite inteira. 
Falta palavra que fala, 
discute ou fica calada,
palavras palavreadas, 
cantadas e decantadas, 
ameaçadas de verde,
desse verde de verdade, 
do verde vida da tarde, 
que entardece amanhecendo 
e escurecendo não arde. 
Debaixo da prateleira, 
da praia onde a oleira, 
oleando sua lida, 
aquece a lida da vida, 
ávida de viver, 
desde cedo, ao amanhecer, 
enxerga o cego na enxerga, 
em cerda de pelo liso, 
aliso devagarinho 
construindo meu caminho 
na caminhada do dia, 
onde está minha alegria,
não a perdi de verdade, 
se não fosse meio-dia 
ou no anoitecer da tarde. 
Calado fico em silêncio, 
um silêncio sem alarde,
por isso fico calado 
e calo em sinceridade, 
idade sim, só idade,
quero ver se vejo a noite,
a noite ao meio-dia, 
ver a lua nessa noite. 
Afoito fico nervoso 
e meu nervo tão raivoso 
espanta o meu caminhar,
nesse caminho de sonho
não consigo mais sonhar.

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