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Zé Mariano
É poeta, pesquisador e professor. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, é mestrando em Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa pela mesma faculdade, lidando com temas como literatura afro-brasileira, estudos culturais, relações raciais e estudos de gênero. Foi editor da revista Crioula, publicação virtual de pós-graduandos do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP. Atua também como educador em torno de temas como literatura, educação e relações étnico-raciais. Teve poemas publicados em portais e revistas eletrônicas.

PLANTIO SOBRE DOIS MUNDOS

Em um suspiro, a presença limita a corda. E os
ferros soam como alarmes da indiferença
mal dizendo os sonhos.

Pois sonhos mal contados sugerem majoritariamente a dor.

Explico: 
Eu quis nascer outro.
Desejei o outro.
Consumi o outro.
Tive na minha mão a 
carne do outro.

 

E mesmo assim os astros não se alinharam.

Tornei-me os olhos não pertencidos,
tornei-me o fruto desconexo e estranho 
a quem sempre me teve como desalmado

Sem alma mesmo,
inadequado à civilização.

Esta terra que abriga os homens é dupla:
seca as lágrimas do plantio sagrado,
molha as folhas que recusam o germinar.

Não fui foice, não fui cerca.
Não existiu corte transversal
separando o dito do não dito.

Habitei dois mundos e
negaram-me ambos.

E se grito socorro
é porque a corda é muito curta.


Se soluço tristeza
é porque o ferro é pouco.

Pouco,

Muito pouco.

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