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Janete Manacá 
É atriz, escritora e poetisa, autora dos livros: “Deusas Aladas”, “A Última Valsa”, “Quando a Vida Renasce do Caos” e “Sinfonias do Entardecer”. Participou também da Coletânea “Sete Feminino de Luas e Marés” com 30 mulheres brasileiras. Autora da coluna mensal “Olhares sobre a cidade” da Revista Centro Oeste de 2016 a 2017. Autora dos Projetos: Sala Zen, Bate Papo Zen, Tempo de Amar e Parto poético, na Gerência-Executiva do INSS em Cuiabá/MT de 2005 a 2011. Atualmente é integrante do Coletivo Literário Maria Taquara – Mulherio das Letras/MT e do site Parágrafo Cerrado. É bacharel em Serviço Social, Comunicação Social e Filosofia, com especialização em semiótica da cultura pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

NEIDE SILVA PARA MUITO ALÉM DO VÃO DA PORTA

As obras de arte de Neide Silva, psicóloga, artista plástica e escritora, nos incitam a sair do lugar comum e mergulhar na amplidão de outros universos. Por meio delas aguçamos os desejos e somos levados a apreciar infinitos lugares e nos inebriarmos com a grandeza de cada possibilidade. Na Pixé deste mês, você tem passagem livre para mergulhar nesse universo exequível.


A menina inquieta que morava no coração do bairro Pedregal em Cuiabá cresceu em meio à efervescência cultural. O irmão mais velho é artista plástico e assim ela aprendeu desde muito cedo a apreciar o sentido das cores, o valor da estética, a importância dos traços, o transbordar dos sentimentos e, claro, a apreciar o belo. 


Atenta a tudo que estava relacionado às artes plásticas em seu próprio lar, estava sempre a espreitar pelo vão da porta. O seu imaginário era alimentado dia a dia e, no seu mágico quintal, exercia a alquimia, reciclando objetos em desuso para criar suas primeiras obras de arte. 


Sua paleta transita entre a suavidade do rosa, o vigor do vermelho rubro e o intenso azul que nos convida a conjugar o verbo esperançar. A naturalidade do entrelaçamento erótico de corpos desnudos. A dominação e a liberdade nas relações amorosas. E a bailarina que se equilibra na ponta dos pés e se entrega à sedução do voo numa catarse propícia ao encontro consigo mesma.


Há ainda as mulheres que rompem com os arcaicos valores e se fazem luzes entre flores, amparadas pela Mãe Primordial. E, nessa via-crucis, Neide agrega outras técnicas. Num ensaio à superação das habilidades inerentes ao seu ser, vai além do acrílico sobre tela e insere também as esculturas de argila e as instalações de arame e papel canson, tão lindamente representados pelos contorcionistas. 


Das mangas e cajus sentimos o cheiro, o sabor e somos provocados a adentrar a obra de arte. Nesse momento, já não estamos mais sozinhos, evocamos a criança arteira que um dia fomos e seguimos. E, desprovidos da rigidez normativa, nos entregamos ao prazer e nos permitimos desfrutar desse idílico encontro longe das atribulações do cotidiano. 


Os abstratos coloridos das flores, da casa de campo, do Cerrado, e dos antúrios, nos despertam para a contemplação, num encontro possível que propicia a transcendência. As cinco rosas azuis que representam a força das cinco irmãs entrelaçadas num afeto imprescindível. As cadeiras que aprisionam memórias ancestrais e tantas outras memórias presentes nas suas obras.


Neide conta histórias em códigos que decodificam as histórias de outras pessoas que se deparam com a sua arte. Como a tela colorida de balões que remete aos momentos festivos de datas comemorativas, entre amigos e familiares, que povoam o nosso imaginário na vida adulta. E as inebriantes pipas cor-de-rosa que se misturam às paisagens para entregar nossos mais secretos desejos ao infinito.


A cruz que sustenta muitas de suas obras, ao contrário do peso simbólico cristão, tem nas pinceladas a ousadia de desabrochar asas e partir em busca de utopias. Como o entardecer das travessias expostos num vermelho instigante, propenso à reflexão.


Cada tela, escultura e instalação de Neide Silva é um convite tentador para quem aspira encontrar-se com o novo, mas há que se ter coragem para desnudar-se diante desse mundo recriado na simbologia da beleza, suavidade, denúncia, criticidade... Desnudar o mundo e a nós mesmos é tarefa para toda a vida. Suas obras nos trazem o infinito almejado e possível, como a harmonia da primavera retratada com tão sutil sensibilidade. 


Como nos lembra José Ortega Y Gasset, amplamente considerado o maior filósofo espanhol do século XX: “A tarefa do artista é acrescentar mundos novos”. Neide Silva consegue com suas criações validar o pensamento de Ortega. 

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