Henrique de Medeiros
É escritor, jornalista e publicitário. Natural de Corumbá-MS, estudou em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde se formou em Comunicação Social na Universidade Gama Filho, em 1976. Integrante da Academia Sul Mato-grossense de Letras, atualmente ocupa o cargo de Presidente.
AMANHÃS
todos os dias
ressuscito à meia-noite
um dia não haverá amanhã
nunca se sabe
amanhã pode não haver amanhã
portanto
sempre ressuscito
nasço novamente a cada meia-noite
amanhãs são
caudalosos frios quentes amorosos
simplesmente amanhãs
ou apenas novos dias
posso estar dormindo
mas ressuscito
em meio ao sono
sem mover um músculo
apenas acontece
em meio a isso
nos dias e nos amanhãs
sigo pelas ruas
assistindo a tudo
como em frente a um filme
personagens e fatos
não me obedecem
assisto às cenas e gostaria de
modificar movimentos
com simples lances de xadrez
reis e rainhas me ignoram
bispos e cavalos também
torres idem
peões mais ainda
nos amanhãs em que ressuscito
não sei se trago algo de novo
são mesmas dúvidas
dores desejos coragem medo
travo com as trevas um pacto de dúvida
acendo um fósforo e nada clareia
em pleno dia
carrego traços noturnos
e vice-versa
através das horas em grande confusão
barafundésimo cataclismo
mesmo com o possível amanhã
tudo se resolve no hoje
o amanhã é o outro hoje
nos entremeios
o mundo não para de girar
gente para cá e lá
angústias obsessões compulsões
individualidades plurais desiguais
o amanhã às vezes me cansa
DORES EM CORES
é preciso decifrar
por terra mar ou ar
possibilidades do encontrar
motivos do continuar
chutar a bola
correr atrás
buscar pelas luas inventadas
desculpas culpas fantasias
enganar por mais uns dias
procurar entre ruínas
dos corpos
mentes
pequenas ruelas
saídas
que suplantem
encalhados momentos
de atos banais
que do nulo
modifiquem o comum
em intervalos dos entreatos
inventando crenças
próprias
particulares
que venham a fazer com
que as dores
se transformem
em cores