Fábio Júnio Vieira da Silva
É alagoano, radicado em Nova Olímpia Mato Grosso há 33 anos. Doutorando e Mestre em Estudos Literário pelo PPGEL/UNEMAT, Graduado em Letras/Espanhol pela Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT e em Pedagogia pela Universidade de Cuiabá-UNIC.
DE OLHO
Olha aqui o que deixei de te mostrar noite passada, veja como é rubra a parte mais profunda. A desgraça de um homem está sempre ligada a não entender de bocetas, malas, beijos, panela de pressão e de flores, essas elas fazem questão de lançarem em face. Você nunca me manda flores, infame! Ela nunca trepa comigo direito. Houve um tempo que trepávamos, no quarto, na cozinha, no banheiro, na sala. Na praça Padre Cícero seis vezes, que o santo nos perdoe, ele não precisava assistir a tal cena. Ela me pagou um boquete muito gostoso na rua presidente Médici, não era tão tarde, mas não perdi a oportunidade de olhar seu rosto lindo de boca aberta a receber toda a porra e engolir vagarosamente e voltar a abocanhar o mastro supersensível. – Olha aqui logo, é mesmo muito vermelho? Pobre do homem que se acha esperto demais e se acha dono de uma mulher. Cego, lesado e incapaz de saber das coisas mais simples dessa vida. Eu aprendi da maneira mais difícil com Camila, uma moça lindíssima. Mandou recado pelo irmão para que nos encontrássemos na praça que orna a rodoviária, cinco da tarde. Pensei que teria todo tempo do mundo com a beldade, moça direita é o que diziam. Confesso que pensei em me comportar romanticamente. Fingi entender de flores, bombons e vinhos. Tempo perdido, a menina era especialista em cobrar pelos prazeres sexuais, duzentos contos por um anal, se eu soubesse que iria pagar por cada cena eu teria evitado gastar com uma cesta que ela levou para seu próximo encontro, com certeza o vinho ela aproveitou tranquilamente. Só ganhei uma mísera punheta. Eu é que não vou olhar nada, você nem tem um espéculo para que eu abra e olhe os detalhes da sua boceta. Eu acendo meu cigarro, pego meu copo de cachaça barata e me sento a olhar a rua calma. Penso na Camila, aquela puta da peste, fez eu gastar todos os trocados que consegui na semana com trabalhos de jardinagem. Por onde andará aquela puta, será que está igual essa daqui, pedindo para alguém lhe olhar a vulva, ou se acertou na vida de tanto explorar babacas feito eu. Tomara que tenha pego uma doença e aquela boceta dela tenha estragado. Gosto desse extraforte, me lembra a infância, cheiro que zonzeia a madrugada e se mistura com o da bisteca, frango ou peixe que minha mãe fritava para meu pai boia-fria. Parece que ela dormiu, parou de me chamar para ver aquela vulva que deveria estar mesmo vermelha de tanto fodermos o dia inteiro. Nem sei o nome dessa vagabunda que ronca em minha cama. Não quero saber, amanhã a despedirei com seiscentos reais e espero não a ver nunca mais. Espero esporrar em sua garganta ainda nessa madrugada, a vadia é louca por um anal. Já não sou tão novo, como por um milagre consegui foder com ela o dia inteiro. Deixarei ela descansar, porque só assim descanso também. Puxo a fumaça e a solto lentamente, vontade de cuspir desgraçada. Um gole e está tudo bem. Enquanto ela dorme penso na Enedina, que viagem maluca, mulher de filhos loucos e dona de um rabo, que rabo! Coroa gostosa, não tive a chance de enrabar a mãe de família, talvez pela mesma experiência que tenho com flores, nenhuma. Não sei escolher, não sei entregar e não sei escrever bilhetes românticos. Que se dane essa merda de romantismo! Sou incompetente e analfabeto quando a matéria é mulheres e sua xanas. Elas que tomem a iniciativa, que chupem se quiserem, que conduza o mastro a lhes penetrar o ânus ou a vulva. Se me der prazer gemo, se não digo palavrões e as vejo gozar. Na verdade, adoro quando elas se sentem à vontade e eu viro seu objeto sexual. Não tem preço ver elas uivarem de desejo e retorcerem a cada orgasmo. Ver os músculos se tencionarem a cada movimento de língua no clitóris, mordiscada nos mamilos, a exploração da orelha e o movimento de vai e vem nos orifícios lubrificados com líquidos seminais, cuspe ou óleos e lubrificantes artificiais. Não que eu não tive chance com Enedina, tive e não sabia o que fazer com a senhora dos meus desejos de adolescente. Brochei, acredite! Brocharia de todas as formas. Teria de ensinar a ela o que eu não sabia, tratar bem uma puta na cama, penso que agora sei. Será? Os detalhes com a quase foda me recuso a narrar. Me recuso porque quero evitar um desastre e que não venha acontecer o mesmo nessa madrugada quando eu tentar gozar na garganta dessa que ronca em minha cama. O que será que essa maluca queria me mostrar, será mesmo só a vulva avermelhada? No monte de vênus ela tem uma tatoo com a inscrição: Foda até arder. Um piercing e uma argola de cada pequeno lábio que ficava deliciosamente de fora. Quero dormir, quero poder não sonhar com um amor que me encontre, quero continuar a foder as vaginas, bocas e rabos que aparecer. Quero lembrar das fodas como uma criança lembra dos presentes que ganharam. Quero me deitar com todas as mulheres possíveis e impossíveis e não desejo deflorar virgens, elas que procurem outros signos e voltem depois. Mais um gole e um trago, espero que o amor não me encontre. Estou feliz dividir eu comigo mesmo e meu gozo com o mundo. Já ia me esquecendo, tenho sete filhos, eles não me têm. São praticamente filhos de outros, sei que são meus porque as mães me disseram, não registrei nenhum, não me sinto mal com isso, são quatro meninas e três meninos. Os pais escolheram os nomes para minhas gozadas. Não posso fazer nada, se as mães só quiseram meu prazer. Olho o céu pela janela aberta. Lá a lua clareia a estrada de cascalho, as estrelas brilham, os grilos fazem seu coral. Aqui ela ronca, o que tinha em sua vulva? Eu me sirvo com mais um copo de cachaça, enrolo novo cigarro com folha de caderno e volto ao passado. Por mim ela não mais acordasse, preciso da paz que tem meu silêncio. Preciso deitar e sonhar. Elas realizam meus desejos, meus sonhos não são capazes de realizar. Fodem meu corpo e minha vida, sugam meu pênis e levam minha alma. Trago comigo a tristeza e a alegria de não poder amar uma única boceta úmida para toda vida. Ela desperta sonâmbula: Ei! Você não vem olhar? Me levanto, vou até a porta, confiro se está fechada. Me fecho no banheiro e fico a meditar. Que caralho há naquela boceta?