Evel Rocha
Nasceu em 1967, na Ilha do Sal, Cabo Verde. Graduado em Teologia e Psicologia, pós-graduação em Poder Local (2010), fez o mestrado em Psicologia (2009) e Supervisão Pedagógica (2012). Neste momento está a fazer um doutoramento em Teoria Literária, pela Universidade de Valladolid. Participou de várias conferências nacionais e internacionais como orador na área da literatura e é membro da Academia de Letras de Cabo Verde. Livros publicados: Versos d`Alma (1997, poesia), Estátuas de Sal (2003, romance), Marginais (2010, romance), Cinzas Douradas (2015, poesia), Cisne Branco (2017, romance), Campo da Fortuna (2018, romance).
A OUTUBRÂNCIA DE PÉTALAS
A outubrância de pétalas,
o sabor terroso das minhas insípidas lágrimas
a triste dor que dilacera o coração
as teias do Outono alaranjado
a ponte que rouba a luz dos meus sentidos
o veneno milagroso que amacia a madrugada
o segredo que escorre dos olhos de quem amo
a chuva que repassa os gânglios do telhado
os versos debruados em rochedos requebrados
outubro-me para aliviar a dor
Prensado entre o sol E a lua
besuntados de cinza E desafetos
acastelando sonhos arenosos
que tomam de assalto os meus sentidos
Neste Outubro afunilado
pediram-me para ser
o príncipe da terra santa
mas prefiro ser folha seca de Outono
navegando ao sabor do vento
ao avesso das girândolas luminosas
desta vida que é efémera E vazia.
ONTEM EU VI A TEMPESTADE
Ontem eu vi a tempestade
retumbando na avenida
todos os trens da via láctea
apenas sorri à violência do seu olhar
senti arrepios grávidos de desejos
nos raios glaciais da minha mão em revoada
hórridas velas que sangram de luzes
enquanto o sol insiste em não morrer
com os tristes pássaros que reboam
buscando a primavera
enquanto passa a tempestade
colho bocados de vidro E de flores
moldo frases bordejadas de suor
feéricas sonoridades de lágrimas ronceiras
que estancam a avenida!