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Emerson Alcade 
É poeta, arte-educador, dramaturgo, produtor e slammer. Autor de A massa, O vendedor de travesseiros e, recentemente, Diário Bolivariano; também publicou o livro infantil O boneco do Marcinho e o CD Spoken 1.0. Além de ser um dos nomes expressivos da literatura periférica, é reconhecido como um dos maiores nomes do Slam no Brasil. Campeão do Slam BR 2105, foi vice-campeão da Copa do Mundo de SLAM de Poesias de Paris, na França em 2014, é idealizador do Slam da Guilhermina, em 2012 (o segundo a se formar no país), que é um dos maiores do Brasil. Possui Curso Superior de Teatro e Especialização em Produção Cultural, ambos pela Universidade Anhembi-Morumbi.

À PRÔ
Para a professora Glauciane Catanho. 15/10/2017

Ô prô

hoje ao acordar vi as fotos da campanha que fez pra mim com seus alunos da escola onde estudei

juro que tentei conter as lágrimas, larguei o celular e ainda na cama me virei para o lado e lembrei-me de suas aulas

quando lia as minhas redações, me incentivava a produzir mais, exaltava o conteúdo, apesar dos erros gramaticais

 

quando cheguei na França, prô, o apresentador tirou sarro da minha cara porque eu não sei falar francês e nem inglês

eles não fazem ideia de onde viemos, que na nossa escola não tem biblioteca, falta material e às vezes nem abre por medo, aí Pilote conversa com o meu dedo 

 

Ô prô

nunca imaginei que sairia do país e nem que faria faculdade, a senhora me ajudou a passar no vestibular e vibrou comigo quando consegui a bolsa integral  – entendo que a minha obrigação é retribuir trazendo autoestima através da literatura marginal

 

assim como Jacques Prévert também quero escrever pras massas, aliás foi a massa que me trouxe aqui

 

que essas crianças que estão aí segurando cartazes com o meu nome sentadas na mesma carteira onde sentei

possam ter exemplos de que, contudo, pobres também podem vencer através dos estudos

 

ainda não estou acreditando que passei da semifinal, meu objetivo era só não perder na fase inicial

a ansiedade não me permitiu ficar no quarto. saí pra tomar um ar e descontrair. eu queria sentar na cafeteria daqui da frente para escrever ou ler uns poemas de Charles Baudelaire mas com o preço do café eu almoço no Brasil

 

Ô pro

estou em frente ao Teatro Comedie Française, tá passando uma peça do Victor Hugo, a senhora falava com tanta empolgação dos artistas do Romantismo, de como eles declamavam apaixonadamente, que sonhei em ser poeta

 

Ô prô

guardei o dinheiro que tinha e comprei dois perfumes uma pra minha mãe e outro pra senhora e agora toda vez que se perfumar com eau de toilette vai se lembrar que seu esforço e dedicação no ensino não foram em vão, te elevaram para outro nível e que lecionar é como esculpir diamante, o processo é duro, mas o resultado é sensível 

 

Ô prô

amanhã é a final

já dei o recado, falei da Z/L se pá, tá a pampa 

dos 20 países só sobraram seis: Canadá, Quebec, Escócia, Inglaterra, Israel e o Brasil é o único que não faz parte dos países desenvolvidos, as pessoas falam dois, três e até quatro idiomas –  citam Beethoven e outras fitas das quais nunca tive acesso – tem horas que desanimo, as diferenças são imensas 

 

Ô prô

eu vou indo apesar de ainda ter sol já são quase dez da noite, posso perder o metrô

dizem que Paris é a cidade do amor, então vou encarnar o espírito romântico, e declamar com o peito aberto e sangrando como se tivesse sido rasgado há mais de 500 anos por uma navalha

porque quem se formou em escola pública enfrenta destemido qualquer batalha

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