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Eduardo Mahon
45, é carioca da gema, advogado e escritor. Mora em Cuiabá com a esposa Clarisse Mahon, onde passa sufoco com seus trigêmeos: José Geraldo, João Gabriel e Eduardo Jorge. Autor de livros de poemas, contos e romances, publica pela Editora Carlini e Caniato.

VELÓRIO

Morreu alguém
Na funerária, havia pouca gente
Comprei uma coroa de flores
Abracei duas senhoras risonhas
Cumprimentei um rapaz de óculos escuros

Morreu alguém
Tomei café no copinho de plástico
Fui ao banheiro duas vezes
Uma mulher triste, tristíssima
Foi amparada onde velavam o morto

Morreu alguém
O padre gastou algum latim
Abençoou a alma e os sobreviventes
Horas extremas, de urgência morna
As dores de Cristo, contudo, são eternas

Morreu alguém
Nunca soube quem, mas recebi os pêsames
Sinto muito – mentiam sinceramente
Eu fiz a minha parte:
Chorei um pouco e fui almoçar

 

 

 

 


SUSSURRO MAU

Um sussurro mau 
Sopra nos ouvidos dos homens 
Murmura baixinho - Toma tudo à força… 
Poucos anos depois, um timbre limpo
Já se ouve nos cafés da esplanada
Perguntando a esmo – Estaremos sós?
De repente, homens embriagados
Gritam e cospem e gargalham
Batem na mesa, jogam copos no chão 
Juntos, entoam hinos - Será hoje!
Depois disso, ninguém distingue nada:
Quem é quem; quem quer o quê
Diante da turba, tudo emudece.

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